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Sou uma árvore em turismo
Atravesso a cidade... sou uma árvore. São dez horas. Fiz uma marcação no salão Jorge o salão de cabeleireiro que está situado na rua principal. Antes tomei um café, sou uma árvore em turismo. A recomendação do meu psiquiatra é que não devo ser contrariada.
- Diga-me! é habitual andarem poetas por aqui?! Pergunto eu ao criado.
- Madame está a ver aquele majestoso castanheiro?!
- Sim
- ele costuma levar um poeta pela trela, um animal muito obediente e serviçal.
Molho as bolachas no café, hoje ainda não me vi ao espelho, costumo por um pouco de pó de arroz e pedir ao gnomo que me leia a volta ao mundo de Júlio Verne. Depois de ter tomado o pequeno almoço, apanho um táxi e durante a viagem a conversa entre mim e ele é a conversa comum entre um taxista e uma árvore.
- A Senhora já deve saber...
- O que é que eu devo saber?...
- Os fogos, aquilo até parecia o inferno, devem andar fora da graça de Deus. A Senhora é crente, eu já fui a Fátima a pé duas vezes.
- Olhe, pode mudar de posto, sou alérgica á musica sinfónica.
- Não sabia, se quiser sintonizo outra estação. Hoje há taça de Portugal, é um clássico..
- Olhe pode ir mais devagar, as curvas provocam-me enjoo.
- Chegámos.
- Quanto lhe devo?
- São 5 euros.
Entro no salão de cabeleireiro, saio logo a seguir, esqueci me do livro de cheques. Tocam-me no ombro.
- Acorde, tem de tomar a injecção.
- Tenho de ir ao cabeleireiro, vou experimentar um corte Outono Inverno.
lobo Julho 09
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Comentários
Re: Sou uma árvore em turismo
Hábitos prosaicos enraizados, necessidades adquiridas ao longo dos dias nos tornam seres presos imóveis,enraizados, e muitas vezes levamos os nossos pobres eus poéticos acorrentados ao irmos pintar as unhas de vermelho e nos olharmos um pouco no espelho sem nos enxergarmos, é tão bom não ouvir nenhum som que nos lembre que temos ( somos ) almas. As vezes elas transcedem e acordam, mas a dose maciça de cotidiano as empurra de forma bruta ao hipnótico pomar do sistema.