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Conversa entre um pobre e uma barata
Este conto não se trata propriamente apenas de uma história mas sim de um ponto de vista, talvez até uma meditação.
Fui tanto nesta vida com o suor que despendia e tanto subi que um dia estava predestinado a cair em pique. Nunca fui de muitas falas, nem simpatias, pois eram essas as distracções que me faziam perder do caminho daquele sonho. Acabou esta batalha, tudo que tive afogou-se em dívidas, fiquei sem mulher, sem o meu filho, e até sem a linda casa que tinha - perdi tudo.
Estou agora a viver num chiqueiro, numa casa abandonada, aonde ninguém quer ir pois pensam que está assombrada - também já pensei assim.
O chão está repleto de lixo, e não consigo dormir devido aos passos latejantes dos ratos, e à comichão que as pulgas me dão de bom grado pelo mínimo preço do meu sangue.
Reparei que uma barata olhava fixamente para mim, talvez a pensar que iria ter comer para muitos invernos. Mas era uma estupidez - as baratas não pensam. Pus-me também a olhar para ela e a imaginar o que ela estava a fazer. Ela aproximou-se, subindo meu corpo até à minha mão, mas nunca desviando os pequeninos olhos que tinha dos meus. Era nojenta, e acastanhada, mas sem medo do que eu poderia fazer, mostrava valentia de certeza; ficou a olhar para mim mais um tempo e passado esse tempo, não queria acreditar mas ela falou para mim:
-Olá
Será que estou a ficar maluco, - já não chega ser pobre, desiludido, e solitário, agora a minha mente está a pregar-me partidas; uma desgraça nunca vem só e é bem verdade. Ela continua a falar mas eu não consigo acreditar:
-É verdade eu falo, mas nunca falei com humanos pois nunca vi um em tão mal estado e gostaria de saber como vieste parar a este mundo de baratas, pulgas, e ratos.
-Eu não percebo, como é que tu falas e nunca descobriram tal feito?
A barata ri-se respondendo:
-Ninguém descobre, nem vão descobrir. Vocês nunca quiseram saber de bichos nojentos como nós que vivemos na imundice.
-Sim nisso tens a tua razão, eu também vivo na imundice e ninguém me liga ; sei que pouca gente gosta de baratas mas é impressionante falarem e ninguém dá conta.
E ela responde-me:
- Nunca nos prestaram muita atenção, porque sempre que vêem uma, correm aos gritos a buscar espátulas para nos matar. Por isso é que nunca descobrem. Mas agora conta-me : o que sucedeu para vires parar aqui?
-Eu trabalhei e nunca desgostei de trabalhar porque aliviava-me das tensões que tinha em casa, trabalhei tanto durante muito tempo e até há uns anos vivia uma vida controlada e com vários luxos e habituei-me a esses luxos depois de tantos anos e nesta época em que vida está difícil; essas pequenas distracções contraíram dividas e com essas dívidas chegaram mais dívidas. Ainda me pus no jogo e na bolsa para ver se dobrava pelo menos o nosso ganho, o meu e o da minha mulher mas ainda mais afogado em dívidas fiquei. Levei porrada de muita gente, o meu filho passava fome, a minha mulher traía-me para ganhar mais uns trocos. Com o pouco tempo que passou, começavam a desistir de mim, primeiro os meus poucos amigos viraram-me costas, depois a minha mulher quis o divórcio para se casar com um traste, e o meu filho já nem me dirige a palavra. Estou neste chiqueiro pois penso que não passo de um bocado de lixo.
A barata levantou a cabeça para que eu visse as suas lágrimas que escorriam devido à história triste que ouvira e disse:
-Neste momento a vida não é barata.
E riu-se. Perguntei-lhe sobre o que se estava a rir, pois de certeza a minha desgraça não tinha piada nenhuma, e ela responde:
-Foi pelo o que disse que me estou a rir, foi uma piada de barata, não tinhas percebido?
-Por acaso até tem a sua piada o que disseste - Ri-me por causa daquela piada naquele momento, porque se fosse entre dois humanos não tinha sentido nenhum.
Aquela barata ouvinte passa agora para o local do locutor e com uma seriedade imensa diz-me:
-Olha eu só te tenho a dar o exemplo de nós os bichos nojentos que vivem nos chiqueiros, nós nascemos vistos assim e vivemos a vida toda como tu estás a viver agora e nem por isso deixamos de ser felizes, porque se nada tivemos, nada temos a perder. Nós vemos-vos a lutar e a matarem-se por subir na vida, mas todos acabam numa sarjeta; uns numa sarjeta limpa, outros numa como a que estás agora. Vocês fazem-se mal uns aos outros apenas para se destruírem, e ainda não percebo porque lutam por um lugar mais alto para se atirarem;
Agora diz-me quem vive melhor: aquele que não tem nada, mas nada tem a recear, ou aquele que tem tudo que queria, mas anda sempre com o medo de o que tem desaparecer, e ficar como tu neste momento . Tudo devido ao receio. Gostava que tivesses ouvido isto antes de cometeres todos aqueles erros, não és má pessoa, és humano e até podes ter uma inteligência superior à minha, mas não tens o meu instinto de sobrevivência.
Mas pensa assim: és um Pobre de sorte no final, porque podes ter perdido tudo mas ganhaste uma amiga barata a preço barato.
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Comentários
Uma Ajuda
É a primeira vez que escrevo prosa e gostava de uns comentários...obrigado pela ajuda
Uma pequena explicação
Não estou aqui a insinuar para não lutar pelos nossos sonhos, mas sim lutar por coisas pequenas e simples que nos trazem as maiores alegrias.