CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
Um tiro no ar - “Colecção Obsessiva de Sentimentos”
Puta que pariu! A vida é mesmo uma merda! Pensa ele, afastando a mente da paisagem que o rodeia.
Nas suas mãos descansa a arma, fria, apática, niilista, assassina. É uma Colt modelo 1911, calibre 38, pesa cerca de 1,36 Kg e é confortável na palma da sua mão.
Comprou-a para defesa pessoal e porque gosta de armas, do seu poder explosivo, repentino. De sentir a sua pressão ao disparar. Invariavelmente nunca pensou que ela serviria o propósito para que a quer hoje. Ou se calhar até pensou. Dar um tiro na mioleira, deixar definitivamente de sentir o peso que se lhe arrasta no espirito. O stress, a pressão, a ansiedade. A responsabilidade que acarreta a liberdade, a obrigação de continuar a enfrentar o mundo. Sorrir sempre, aguentar sempre, ter que se superar a si mesmo. Forçar-se a pensamentos positivos, ultrapassar a sua falta de segurança e o calvário do problema monetário. Toda esta merda que lhe vem da condição da carne, e de ser mais um humano na crise.
Ele olha para a Colt, preta, já quente da sua palma, e leva-a à têmpora. Puxa a culatra, e fica suspenso no limbo da decisão. É fácil!… Tão fácil!… Tão aliviador!...
Então olha para o céu, para o seu azul celeste. A raiva fervilha-lhe no estômago, açoita-lhe a fronte. Deseja apertar ainda mais o gatilho e fecha as pálpebras com força. Cerra os dentes de dor. Num último momento vira a arma para cima e dispara gritando ao mesmo tempo repetidamente: PUTA QUE TE PARIU!...
Os sete tiros ressoam, amplamente, rapidamente, e finalizam. Ele continua apertar o gatilho, ouvindo o som da culatra a bater no vazio. Ao mesmo tempo vai gritando. Sempre… Sempre as mesmas palavras… A intensidade da sua raiva vai-se esvaindo, diminuindo, e ele termina a soluçar para o ar.
Joaquim desistiu da ideia de espalhar os miolos pelo relvado. Lembrou-se repentinamente que nada disto era sua culpa. E, dirigiu a sua frustração para aquele Ser que se diz sempre presente, mas que nunca se mostra. Virou-se para cima e disparou para Deus.
As balas subiram impulsionadas pela pólvora. Subiram dirigidas pela raiva e pela vontade de Joaquim. Tentaram atravessar o duro chão do paraíso, e acertar em Deus no seu trono maciço.
Mas a força da gravidade é grande, a distância para o paraíso é longa, e Deus é mais poderoso que a raiva de todos os homens juntos. As balas subiram a 820 Km/h e chegaram à altura de 742 metros. Venceu Deus com as suas leis da física, com a sua omnisciência. As balas abrandaram, perderam a força. Ficaram suspensas naquela orla do ar, e caíram.
Com aproximadamente 10 gramas de peso, em poucos segundos atingem a velocidade de 278 Km/h. Por azar ou sorte, ou por pura vontade divina, a Dª. Maria encontrava-se precisamente no local onde a bala iria aterrar. Andava a colher umas couves na sua horta. Quando ela se agacha para um belo repolho, a bala atravessa-lhe o pescoço, fura-lhe a traqueia, rompe-lhe a artéria carótida e a veia jugular. Instantaneamente esguicha-se-lhe o sangue, ela perde as forças e prostra-se de cara no chão regando de vida as couves.
Ela, Dª. Maria, sem culpa nenhuma da confusão do Sr. Joaquim, com a vida ou com Deus. Sem culpa nenhuma da confusão de Deus com este. É assim, tal como nós, vítima da sua ironia.
Submited by
Prosas :
- Se logue para poder enviar comentários
- 1134 leituras
other contents of vsmario
Tópico | Título | Respostas | Views | Last Post | Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Prosas/Pensamentos | Divações | 0 | 965 | 03/22/2014 - 16:56 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Objeto | 0 | 1.127 | 02/02/2013 - 19:17 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Só assim irás nascer | 0 | 967 | 02/02/2013 - 19:15 | Português | |
Críticas/Outros | Factura?... | 0 | 1.551 | 10/18/2012 - 20:26 | Português | |
Prosas/Contos | O quarto escuro | 0 | 1.118 | 10/09/2012 - 15:10 | Português | |
Críticas/Outros | Quem é que nos fodeu a todos? | 1 | 1.709 | 10/04/2012 - 16:43 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Onde devia estar | 0 | 1.002 | 10/03/2012 - 17:13 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Vai ficar tudo bem | 0 | 1.271 | 09/18/2012 - 20:02 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Vazio | 0 | 1.049 | 09/18/2012 - 19:49 | Português | |
Poesia/Geral | Mata esta sede | 0 | 1.447 | 09/18/2012 - 19:43 | Português | |
Poesia/Geral | Nascer de novo | 0 | 1.084 | 09/10/2012 - 16:17 | Português | |
Prosas/Erótico | Anseio | 0 | 1.207 | 09/04/2012 - 21:31 | Português | |
Prosas/Outros | Brinca com o meu coração | 0 | 934 | 08/08/2012 - 20:05 | Português | |
Prosas/Erótico | Desejo solitário | 0 | 1.025 | 07/23/2012 - 01:05 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Minha terra | 1 | 1.220 | 07/07/2012 - 21:24 | Português | |
Poesia/Paixão | donzela | 1 | 1.233 | 07/06/2012 - 15:56 | Português | |
Prosas/Contos | Um tiro no ar - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 0 | 1.134 | 05/17/2012 - 23:41 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Merdas que me atrasam a alma - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 0 | 1.093 | 05/17/2012 - 23:37 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Felicidade cíclica - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 0 | 1.190 | 05/16/2012 - 18:12 | Português | |
Prosas/Pensamentos | Verão - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 0 | 1.043 | 05/16/2012 - 18:10 | Português | |
Prosas/Contos | Plásticos II - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 0 | 1.287 | 05/11/2012 - 19:32 | Português | |
Prosas/Saudade | Minha terra | 0 | 1.390 | 05/10/2012 - 16:59 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Lá fora... | 0 | 1.123 | 05/10/2012 - 16:24 | Português | |
Poesia/Pensamentos | O mundo gira sempre para o mesmo lado? - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 1 | 1.078 | 05/09/2012 - 22:09 | Português | |
Poesia/Amor | Quem quer? - "Colecção Obsessiva de Sentimentos" | 0 | 1.232 | 05/09/2012 - 21:54 | Português |
Add comment