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A Verdade do Evangelho - Capítulo III
A Verdade do Evangelho
(Segundo a perspectiva de Luís Alturas)
Capitulo III
Betabara, 6 de Maio do ano 30 d.C.
- Apanhai… que é ladrão! – Gritava repetidamente e muito alvoraçado o cego, no mercado de onde Joshua acabava de fugir.
Tinha entrado no mercado com um único intuito: sair dali, o mais rapidamente possível, na posse dos unguentos que fariam o seu pai voltar a ser o mesmo homem que havia sido até aquela fatídica tarde, que nunca mais conseguira apagar da sua memória. Ao dar uma volta de reconhecimento à praça – bem mais pequena do que aquela que conhecia, em Jerusalém –, os seus olhos detiveram-se numa banca, em particular, onde um homem, aparentemente cego e com um aspecto já muito decrépito, vendia uma panóplia de ervas para infusão, raízes, perfumes e unguentos. É ali…
Uma vez que não tinha dinheiro para pagar o que quer que fosse, para conseguir concretizar o seu intento, só lhe restava uma solução. Roubar.
Nada que o preocupasse ou sequer demovesse. Habituara-se a fazê-lo havia já muito tempo. Era o mais velho de 2 irmãos e desde muito cedo tivera a necessidade de se apoderar, de forma menos lícita, de pertences que não lhe pertenciam, sobretudo pão, mercearias e carnes fumadas, para ajudar ao sustento da casa.
Seu pai reprovava esse comportamento de forma veemente. Para dissuadi-lo, recordava-lhe quase todos os dias a Lei de Deus sob a forma dos Dez Mandamentos, dizendo-lhe, “terem sido escritos pela própria mão de Deus, em tábuas de pedra, e entregues ao profeta Moisés, no sopé do Monte Sinai, a fim de mostrar o caminho duma vida liberta de escravidão e de pecado”. Depois de os nomear, ipsis verbis, fazia questão de enfatizar que quem não cumprisse o Decálogo estaria, aos olhos de Deus, a cometer um pecado mortal merecedor de castigo.
Mas, mesmo assim, Joshua não tinha outro remédio senão continuar a contrariar aqueles decretos e continuar a pecar pois, o que era um facto é que, o seu pai nunca trabalhara e o dinheiro que a sua mãe ganhava na venda de tecelagens não chegava para dar de comer a todas as bocas que se reuniam todos os dias à volta da mesa.
Assim, sem pensar duas vezes, e aproveitando um breve momento de ajuntamento à volta daquele local, abeirou-se da banca e, esticando o braço entre as gentes que se encontravam à sua frente, agarrou de súbito num frasco igual ao que certo dia vira a ser usado num outro homem açoitado. Recordava-se perfeitamente das letras inscritas no rótulo que o identificava. Já está…
Mas ainda não tinha recolhido o frasco para dentro da sacola quando o velho começara a gritar desalmadamente, apontando na sua direcção. Fazia-o com tal alarido que Joshua não teve sequer tempo de escolher qual a melhor direcção a tomar para fugir dali.
- Apanhai… que é ladrão! Apanhai… aquele bandido que ora foge… além… – Gritava o velho, com uma voz esganiçada, auxiliada por um dedo indicador já muito encarquilhado, alarmando as gentes que agora dirigiam o olhar para a criança que desatava a fugir.
Joshua começou a correr de forma lesta e esquiva, serpenteando através das gentes que ocupavam o espaço dos exíguos corredores daquele mercado. Enquanto corria não parava de pensar em quão ingénuo havia sido. Devia ter percebido que a cegueira do velho não era real mas, uma forma ardilosa de captar a atenção da populaça. Sacana…
Não obstante o medo que sentira, quase sem que desse por isso, Joshua conseguira escapar incólume a todas aquelas grotescas mãos, que se haviam lançado ao seu manto a fim de o apanhar. Neste momento, e com um passo menos acelerado, já se encontrava fora do mercado e a distância segura. Olhando em redor e certificando-se que já não havia vivalma por perto, parou. Havia que retomar o fôlego que perdera. Enquanto o seu coração voltava lentamente a entrar num ritmo compassado e a sua respiração se quedava mais vagarosa, abriu a sua sacola e observou que lá dentro jazia, indiferente ao medo, o frasco que ali metera. Consegui…
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