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A Verdade do Evangelho - Capítulo IV

A Verdade do Evangelho
(Segundo a perspectiva de Luís Alturas)

Capítulo IV
 

Nazaré, 7 de Abril do ano 7 a.C.

    Aquela manhã de Primavera estava excepcionalmente quente, no pequeno burgo de Nazaré. Situada na encosta de uma colina, delimitada a leste por um pequeno ribeiro e rodeada de outeiros, Nazaré era um pequeno forno a partir do momento em que o sol decidia subir a mais de um palmo relativamente à linha do horizonte. Aldeia agrícola, com cerca de duas centenas de habitantes, apesar de muito singela, albergava muitos dos descendentes do ramo principesco do norte, da ilustre família do rei David.
    Dentro da oficina, o suor misturava-se com o pó proveniente do corte de madeira que, todos os dias, era feito para a manufactura das juntas de bois e arados. O ar estava pesado e o espírito de Gabriel estava inquieto, pois ansiava ser convincente na forma como abordaria o assunto com seu mestre – José.

    Filho de Jacó e descendente da Casa de David, José nascera em Belém havia trinta e três anos. Apesar de ter passado grande parte da sua juventude a ajudar o pai no cultivo da terra no Vale Esdrelon, desde cedo mostrara-se muito talentoso a trabalhar a madeira. E fora por essa razão que, havia já uma dezena de anos que este abandonara a agricultura e se dedicara exclusivamente à carpintaria, fazendo do labor o seu próprio lazer. Não era um homem galhardo mas, em compensação, a sua humildade encantava todos os que com ele privavam. De baixa estatura e atarracado, considerava o silêncio como uma das mais sublimes virtudes do homem.
   
    Enquanto fazia deslizar a plaina, em movimentos precisos sobre a trave de madeira que havia acabado de serrar, Gabriel encheu-se de coragem e, de uma só vez, soltou da sua boca as palavras que repetira mentalmente, de forma incessante na noite anterior.
    - Mestre, tenho um pedido a fazer-vos... – Começara ele, timidamente.
    - Hum... – Fora a única reacção que conseguira arrancar de José, que nessa altura parecia estar mais interessado em encontrar, sobre a sua pouco organizada bancada de trabalho, um martelo, do que saber de que pedido se trataria.
    Acto contínuo, Gabriel continuara.
    - Permitis que leve merenda a minha mãe que está muito débil e incapaz…? - Sentia que, nesse momento, as suas mãos suavam e a voz saia-lhe da boca com pouca firmeza. Receava poder ser indagado por tão evidentes sinais. No entanto, a evidência era só clara para ele próprio, já que José parecia não notar, tão absorto estava naquilo que fazia.
    - Claro, meu bom homem. Ide e ficai com ela durante toda a tarde. – Respondera-lhe José, sem tirar os olhos do martelo que, agora batia freneticamente nos pregos que se iam perdendo dentro da madeira do arado que ora findava.
    - Tendes a certeza que não precisais mais de mim, Mestre?! – A voz sumia-se cada vez mais apesar do entusiasmo que começava a sentir pela afirmativa do seu Mestre.
    - Não, Gabriel. Fazei-o. Adiantareis o trabalho na jornada de amanhã! – Concluiu.
    - Obrigado, Mestre...
    Gabriel nem queria acreditar. José acedera ao seu pedido, sem lhe ter perguntado por pormenores. Sabia-o justo mas, nunca pensara que fosse tão fácil e rápida esta conversa. Não se sentia bem em enganar aquele homem que considerava quase como seu pai. Mas o desejo era mais forte que a consciência.
    Sem dizer mais palavra, Gabriel continuou a aplainar a trave que tinha à sua frente, agora com maior vigor do que o havia feito até então. Estava radiante e, o que na noite anterior, quando se encontrava deitado sobre a cama a olhar indefinidamente para a viga de madeira que atravessava todo o seu quarto, lhe parecera ser a parte mais dura e difícil do seu plano, já estava consumado. Iria poder concretizar aquilo que há muito desejava. É hoje…

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quarta-feira, fevereiro 15, 2012 - 00:36

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