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VERTIGEM URBANA 2
(...continuação...)
Um artista-plástico que besunta as telas com tinta, como se decalcasse esboços pré-desenhados, onde surgem teimosamente figuras flutuantes, tantas vezes translúcidas.
O olhar transformado no deambular, quase distante, bailado, mantém um ponto de mira incerto, descalibrado.
Desfile frágil. Atropelos. Atropelam-se pessoas e coisas. O mérito está na agilidade.
A jornada urbana é encetada em estratégia cautelosa.
Aventura fora de portas, delineada sem porto de abrigo ou guarda-costas.
Caminhar desajeitado em sinuosos percursos.
Apenas numa palavra cabe tudo o que aqui exponho: vertigem.
Sim, porque se trata de uma exposição. Como aquelas em que se colocam as obras nuamente, sujeitas à crítica de quem as absorve.
Oscila a mente e os objectos bambeiam.
De repente tudo se perde em cinzento esmagado como o magma arrefecido.
Derramada no chão das entranhas, tal qual uma ameba, não sabe se tremem as gentes ou se o que tremem são as coisas. Não pode distinguir se é do susto ou da dor.
Um sorriso amarelecido pelo inconformismo apresenta-se para um resgate em slow…dowm...
As imagens estranham-se das formas e dançam nas luzes das noites agónicas.
Emoções insuportavelmente silentes.
Os passos cadenciam-se a ritmo inconstante muito próprio do acrobata que se desloca, bamboleante, sobre a rede.
Equilibrista de braços afastados do tronco a percorrer o arame.
A surpresa inicial foi substituída por alguma rotina disciplinatória e medidas de adequação.
Adaptações a uma nova forma de viver?
Hábitos treinados como defesa. Mas o hábito não faz o monge, e, muito menos, acomodação ou simples aceitação.
O mais inoperante é estacionar a fobia. Ficar estanque ao medo.
Já não se sabe pular, nem trepar árvores, nem dar cambalhotas, nem rebolar no chão. Destino: correr, andar num baloiço de plástico. Eterno de carrocel.
Rebolar-se lambendo terra, arrancando erva com a boca é coisa que qualquer adulto que se preze, jamais quer deixar de poder fazer, ainda que nunca o faça, pelo menos, por puro divertimento, como acontecia na infância. Ou quero dizer, na antiguidade?
Existem crianças inteligentes e sadias que corre com a lógica fugir da chuva?!
A lógica devia, não subir mais que das unhas dos pés?
O que aborrece é ter que fazer algumas coisas, ditas importantes, convencionadas, como avançar uma poça de água para não molhar os pés.
Que piada tem a vida se não se puder saltar de chofre para um charco e estragar os sapatos acabados de estrear?
(continua...)
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