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Voltaire e o Iluminismo francês - Parte I - Preâmbulo e notas biográficas
![](/sites/default/files/membros/user1195/Voltaire.jpg)
Preâmbulo
Já se disse que muito mais se leu sobre Machado de Assis, do que as obras do mesmo.
Talvez não seja despropositado dizer que algo semelhante ocorre com o “Iluminismo”. Muito frequentemente esse Movimento Filosófico, com ramificações nas Artes e na Política, é citado, mas raramente as suas nuances são devidamente estudadas.
Sendo assim, a proposta do presente Ensaio é aclarar as suas diversas facetas através das obras de seu maior protagonista, o filósofo Voltaire, para que a importância desse momento, especial na história da humanidade, possa ser cada vez mais difundida e apreciada.
Após séculos e séculos de ignóbil obscurantismo religioso, político e artístico, deve-se a esse grupo de homens e de mulheres a ousadia de desafiarem as vetustas superstições e carcomidas instituições para restabelecer a “Verdade” e, através dela, libertar os homens do jugo que lhes foi imposto pelas sórdidas maquinações dos manipuladores da ignorância e do desespero humano.
A eles e a elas se deve o avanço das Ciências, da Ética e da Política, ainda que tal avanço continue a ser alvo dos lumpens sociais e religiosos que temeram e temem o risco de perderem os seus injustos privilégios por força das “Luzes” do esclarecimento.
E por conta desses parasitas é que o perigo de haver algum retrocesso está sempre à espreita e não pode ser subestimado, mesmo que exista certa consolidação de algumas daquelas conquistas, como é o caso, por exemplo, do fim quase geral dos regimes Absolutistas, que atualmente só sobrevivem em determinadas regiões da Terra sem a abrangência hegemônica de que desfrutava no Passado. Ou no caso de experimentações artísticas ou, ainda, em algumas práticas éticas que vedam crueldades como a escravidão, a servidão etc.
São conquistas difíceis de serem anuladas, é certo, mas que podem ser diminuídas ou abaladas por conta do avanço no fanatismo religioso que se observa em adeptos das maiores religiões; e, também, por conta da manipulação que as Elites fazem através dos meios de comunicação, pregando um hedonismo avassalador em detrimento de valores mais substanciais; enquanto promovem, em paralelo, a imbecialização contínua das camadas sociais mais humildes.
É preciso, pois, que todos aqueles que foram afortunados com um raciocínio mais claro e com um estoque razoável de cultura se unam em defesa daquela tábua de valores tão arduamente conquistada, haja vista, que foi no período do Iluminismo que a “Arte da Política” mais se aproximou de seu ideal, sem a mediocridade e a desonestidade que atualmente campeia por essa seara.
François Marie Arouet nasceu em Paris, no ano de 1694, filho de um notário razoavelmente bem sucedido e de uma senhora ligeiramente aristocrática. Do pai, herdou o temperamento forte e da mãe certa frivolidade espirituosa.
François ficou órfão logo ao nascer, pois a mãe não resistiu ao parto e ele foi uma criança frágil e doentia. Fragilidades e enfermidades, aliás, que lhe atormentaram por toda a vida, embora tenha vivido por oitenta e oito anos.
Cresceu na cidade provinciana para onde a família se mudou logo após o seu nascimento. Na primeira infância tinha como ídolo o seu irmão mais velho, Armand, um ardoroso seguidor do “Jansenismo (1)”, pronto a se sacrificar por sua causa, para aborrecimento dos parentes.
Tão logo aprendeu as primeiras letras, compôs os seus primeiros versos, também a contragosto do pai, que dizia ter dois idiotas: um em prosa e o outro em verso (sic). Mas, apesar da discordância paterna, a sua produção poética encontrou admiradores, dentre os quais a famosa hetera (2) chamada Ninon de L’ENCLOS, que ao morrer deixou-lhe uma pequena soma para a compra de livros.
Com esses livros ele teve o primeiro contato com a literatura e com um abade dissoluto, a sua primeira educação formal. O mestre ensinava-lhe as orações e prédicas religiosas e, simultaneamente, as premissas do Ceticismo.
Depois, foi matriculado em um colégio jesuíta e nele lhe foi ensinada a Arte da Dialética. De posse, então, desse valioso instrumento intelectual e de retórica, ele pôde formatar os seus argumentos e as discussões sobre temas profundos que mantinha com os professores tornaram-se a sua marca registrada. Enquanto os outros garotos de sua idade, cerca de doze anos, brincavam ao ar livre, ele discutia Teologia com os “doutores”.
E os vários embates renderam-lhe admiradores, mas, também, adversários. Contudo, apesar dos últimos, formou-se no colégio e quando chegou o momento de prover o próprio sustento, não hesitou em optar pela Literatura, para novo desgosto do pai, que preferia uma profissão mais regular e lucrativa (como ainda hoje é tão comum).
Ele, porém, não desistiu de sua escolha e prosseguiu na Escrita, sem, contudo, encarnar o estereótipo associado ao intelectual: sombrio, introvertido, melancólico, distante do mundo prático. Ao contrário, boêmio por natureza, não perdia qualquer oportunidade de festejar com os amigos e com as amantes, entre mesas fartas e vinhos de primeira qualidade. Vivia intensamente uma juventude despreocupada e perdulária até que o pai, farto de sua inconsequência, enviou-o para um parente residente na localidade de Caen, esperando que ali ele fosse disciplinado. Mas o hospedeiro não resistiu aos encantos do jovem e ao invés de lhe cercear, passou a encobrir as suas aventuras e a estimular o seu espírito de independência e de rebeldia. Diante disso, o pai enviou-o para a cidade holandesa de Haia, rogando ao embaixador francês que o vigiasse com severidade; mas, logo, ele iniciou um romance com uma jovem “Pimpette(3)” e quando o caso veio à luz, o diplomata o devolveu à casa paterna.
Dessa sorte, entre os arroubos da idade, em 1715 ele completou vinte e um anos, atingindo a maioridade. Logo após o aniversario, mudou-se para Paris, onde presenciou a morte do rei Luis XIV e a instalação de uma Regência do trono, haja vista a pouca idade do herdeiro legal, Luis XV.
Na “Cidade das Luzes” ele repetiu seu comportamento desregrado da província e em pouco tempo tornou-se conhecido nos meios boêmios da cidade. Reconhecido por sua inteligência superior e pela imprudência assustadora, assumiu com brevidade o posto de “o critico mais mordaz” dos Costumes, da Política e da Sociedade.
Esse reconhecimento garantiu-lhe vários privilégios, mas, também, graves aborrecimentos, como o que sucedeu quando lhe foi imputada a autoria de dois poemas que sugeriam que o Regente do trono pretendia usurpá-lo em definitivo.
A resposta irada do mandatário tornou-se célebre e aconteceu quando ambos se encontraram casualmente em um dos parques da cidade. Disse-lhe o governante:
- Monsieur Arouet eu aposto que posso lhe mostrar algo que o senhor nunca viu.
- Sim, o que será?
- O interior da Bastilha (4).
Então, em 16 de abril de 1717, Arouet sofreu a sua primeira prisão. Nela, sem que se saiba com exatidão o motivo (5) ele assumiu o nome de Voltaire e se tornou um poeta convicto.
Cumpriu uma pena de onze meses e nesse tempo compôs um longo poema épico, “A Henriade”, que narrava a história de Henrique de Navarra. O poema teve boa aceitação no meio intelectual e o consolidou como escritor.
Ao deixar o calabouço, o mesmo Regente que o condenara decidiu pagar-lhe uma pensão, talvez impressionado por seu talento, ou por ter descoberto a sua inocência, já que os poemas causadores da prisão não eram de sua lavra.
Esses fatos marcaram a primeira fase de sua vida, pois tão logo deixou a prisão, e já como Voltaire, iniciou a vida adulta, a qual se liga intimamente com a sua obra, como veremos na sequência.
Nota do Autor (1) – Jansenismo – doutrina criada pelo bispo holandês Cornellius Jansenius, no século XVII, que, entre outros, combinava elementos do catolicismo com premissas Protestantes, negando a obediência ao Papa e afirmando que a “Graça Divina” era concedida aos predestinados e não aos que fizessem boas ações. Seita e doutrina combatidas pelo Vaticano com ardor.
Nota do Autor (2) – Hetera – denominação dada às prostitutas de luxo na Grécia antiga.
Nota do Autor (3) – Pimpette – termo inglês dado às moças liberais, tanto no agir, no vestir, quanto no pensar.
Nota do Autor (4) – Bastilha – a famosa prisão. Inaugurada em 1383, foi destruída em 1789 dando inicio à Revolução Francesa, da qual se tornou icônica.
Nota do Autor (5) – Voltaire – para o erudito Carlyle, Voltaire seria um anagrama. Para outros, seria um nome que existira na família da mãe do filósofo.
Produção e divulgação de Pat Tavares, lettré, l´art et la culture, assessoria de Imprensa e de Comunicação com o Público. Rio de Janeiro, inverno de 2014.
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