ESCÂNDALO

Tu oh rua
saberás dizer
de minhas lágrimas
e de minha garganta sufocada...
dos gestos loucos,
do olhar perdido
e dos passos trôpegos
de bêbado
que eu danço
com cada transeunte que chora;
um não sei que,
de um tempo
não sei quando,
nem sei onde e nem por que...
Tu me dirás
de uma dor tão escondida
que quanto mais se esconde
mais é exposta,
quando se vê no outro,
- estranho olhar -
o nosso escândalo!
Tu me dirás oh rua,
mansamente,
de quantos viste enlouquecer
bem no trajeto,
de tuas tortas e múltlipas
esquinas...
Tu me dirás
que todos os passos
que marcaram tuas calçadas
e que gastaram teu chão
sem cerimônia,
são meus próprios passos
perdidos em tempos e universos
que não lembro,
de haver, sequer, um dia, imaginado!
Dirás que a dor do mundo
é minha dor,
que o grito que sufoco
está sendo gritado ali,
a dois passos de mim,
nos meus ouvidos...
e o que não vejo, não quero, não desejo,
o que não ouso,
se me apresenta
escancarado assim,
frente aos meus olhos
que fitam mudos e aflitos
o vai e vem de "mins" que nunca cessa!
Tu me dirás, enfim
que eu sou a atualidade
de tudo quanto vejo
e o escândalo final
é não ter visto
que as sombras que passam
sou eu mesma!