DIVINO VENENO

A displicência de um olhar
jogado à esmo
sem qualquer validade ou intenção
pode às vezes ferir, quem lhe dá um crédito
maior do que merecem – tais sorrateiros olhares
alheios, vagos, sutis, são como anzóis e iscas;
tão aparentemente inofensivos
e tanto mais perigosos por que
não se lhes crê – perigo algum!
Quem neles se prender arrisca a sorte
e quizá lhe chegue tarde o despertar
do tal lânguido olhar
de despropósito!
Pois o veneno vem junto ao charme
do triste olhar – sempre adejante!
Tal pescador cruel, nos foge quando
já fisgados, queremos mergulhar nas profundezas
e que surprêsa,
as rasas águas nos despejam
sobre a lama
de um rio que nunca fora caudaloso!
Mestres do engôdo;
o divino mistério prometido
é um rápido interlúdio
antes da queda fatal no vácuo imenso
que eles pretendem;
jogar fora de si - sobre quem ouse
fitar o seu vazio por um instante!