Pessoa gaivota

A gaivota ao voar vê a terra
E contempla o céu quando aterra
Conhece o segredo do mundo
Porque o vê no alto e no fundo
E explora os confins da terra e do mar
E o horizonte profundo
Que os deve afastar

A gaivota é sábia e não medita
Conhece o que a natureza lhe dita
Sua sabedoria é não pensar
E não saber a razão de voar
Nem o motivo de viver
Por isso sossega à beira-mar
Vendo sem entender

A gaivota é guerreira risonha
E luta porque também sonha
Mesmo sem saber sonhar
Suspira parecendo desejar
Mesmo desejar não sabendo
É sábia porque a razão de voar
Sabe-a voando e vivendo

A gaivota é simples e complicada
Para quem humana a quer desenhada
É de bravia humanidade
Três partes espontaneidade
Uma parte entendimento
Torna divina a simplicidade
Com que repousa ao vento

O Homem vê, sabe, vence
Assim como por vezes esquece
A serenidade sábia à beira-mar
Falta-lhe a liberdade de voar
Acresce-lhe a vontade de ser mais
Do que apenas criatura do mar
Na altiva inocência dos mortais