Isabel Allende - A Casa Dos Espíritos

Fizemos amor de maneira violenta e feroz… naquela desordem de almofadas e lençóis, apertados no nu vivo do desejo, enroscando-nos até desfalecer, voltei a sentir-me com vinte anos, contente por ter nos braços uma fêmea brava e apertada que não desfalecia em fiapos quando a montavam, uma égua forte que se podia cavalgar sem contemplações… voltei a sentir-me como aquele que resiste a um chorrilho de palavrões ao ouvido e não necessita de ser embalado com ternuras nem enganado com galanteios.

Também nas melhores famílias havia boas razões para ter vergonha.

Não sabem limpar o cu e querem ter direito a voto.

Lançou uma sonora ventosidade.

A sua beleza era de meter medo, por isso admiravam-na de longe, sem se aproximarem.

As mulheres são muito brutas. São filhas do rigor. Necessitam de um homem para se sentirem seguras e não se dão conta de que a única coisa que há a temer são os próprios homens.

Era obrigada pela vida, e pela sua condição de mulher, a dominar-se, e a morder o freio.

Seria muito bonito sermos todos iguais, mas não somos.  

Estou tão velho que ao olhar-me ao espelho não me reconheço.

Fui muito orgulhoso e por causa do meu orgulho sofri mais do que os outros.

Entrou na minha vida como um anjo distraído que ao passar me roubou a alma.

Esvaziei-me por dentro como um balão picado, foi-se-me todo o entusiasmo.

Tinha a ideia que, ao nomear os problemas, eles se materializavam e já não era possível ignorá-los; por outro lado, se ficam no limbo das palavras não ditas, podem desaparecer sozinhos, com o decorrer do tempo.

Entre ser delinquente ou ser polícia, é melhor ser polícia, porque tens impunidade.

A Santa Madre Igreja está à direita, mas Jesus esteve sempre à esquerda.

O Cristianismo como quase todas as superstições, torna o homem mais débil e resignado e não há que esperar uma recompensa no Céu, mas sim lutar pelos seus direitos na Terra.

Nessa noite acreditei que tinha perdido para sempre a capacidade de me apaixonar, que nunca mais podia rir-me nem perseguir uma ilusão. Mas nunca mais é muito tempo.

Os olhos perdidos de amor.

Sentia-se maior e mais pesado do que ela duas vezes e mil vezes mais forte, mas sentia-se antecipadamente derrotado pela ternura e pela ânsia de protege-la.

Sentia o coração a bater-lhe como um tambor africano de impaciência e ansiedade.

- Por que vivia assim se lhe sobrava dinheiro? - gritou Esteban.
-Porque lhe faltava tudo o resto - replicou Clara docemente.

Mesmo que tivesse de virar-se do avesso como uma luva, estava disposto a seduzi-lo.

Talvez temesse que aquele grandioso amor, que a tantas provações resistira, não pudesse sobreviver à mais terrível de todas: a convivência.

Desejava muito mais do que o seu corpo, queria apoderar-se dessa matéria imprecisa e luminosa que havia no seu interior e que lhe escapava ainda nos momentos em que ela parecia morrer de prazer.

Não se pode encontrar quem não quer ser encontrado.

Mesmo que a agarrasse com as duas mãos e a abraçasse com brutalidade, não podia aprisioná-la. O seu espírito não estava comigo.

Estou certo de que não me amava. Não havia razão para a desejar dessa forma descomedida e brutal que me afundava no desespero e no ridículo. Mas não podia evitá-lo.

Não havia que esperar uma recompensa no céu, mas sim lutar pelos seus direitos na terra.

Desejava-a dolorosamente, mas nunca se atreveu a admiti-lo, nem no país secreto dos seus pensamentos.

Era um desses seres nascidos para a grandeza de um só amor, para o ódio exagerado, para a vingança apocalíptica e para o heroísmo mais sublime.

Já não podia resistir à impaciência do coração.

Não lhe chegava a alma para lamentar todos os ausentes.

Perguntou a si próprio se alguma vez seria capaz de dar na mesma medida em que esperava receber.

Tinha a ternura desajeitada de quem nunca foi amado.

A gente só lê o que lhe interessa e se lhe interessa é porque já tem maturidade para o fazer.

Há sempre uma forma de se fazer o que se quer realmente fazer.

Em quase todas as famílias há um tonto ou um louco.

Tal como no momento de vir ao mundo, ao morrer temos medo do desconhecido. Mas o medo é algo interior que não tem nada que ver com a realidade. Morrer é como nascer: uma mudança apenas.

O sono venceu a dor.

Prevenir o futuro à custa de amargar o presente.

Ela não acreditava que o mundo fosse um vale de lágrimas, mas pelo contrário, um gracejo de Deus, e por isso seria uma estupidez tomá-lo a sério, se ele próprio não o fazia.

Aquilo era como tentar deter um comboio com a mão.

Isto é como encher o mar de areia.

A terra é a única coisa que fica quando tudo o resto se acaba.

Tinha o coração oprimido pela tristeza e o sexo flácido como uma flor murcha e sem destino entre as pernas.

Aceitou finalmente que era a mais bela de todo o universo, porque pôde ver-se com os olhos com que Miguel a olhava.

Ele era um íman para atrair os problemas alheios e as misérias irremediáveis, e era necessário que alguém o pusesse em dia sobre a primavera do amor.

Faziam amor com desespero, inventando novas formulas proibidas, que o medo e a paixão transformavam em alucinadas viagens às estrelas.

Não me perguntes o que não queres que diga.

O pior é ter medo do medo.

A graça não é morrer, porque isso chega de qualquer modo, mas sim sobreviver, o que é um milagre.

O meu ofício é a vida.

Quanto tempo vive o homem, por fim? Vive mil anos ou um só? Vive uma semana ou vários séculos? Por quanto tempo morre o homem? Que quer dizer para sempre? - Pablo Neruda
www.topeneda.blogspot.pt      LIVROS GENIAIS PARA MENTES FANTÁSTICAS                                          Isabelle Allende

Submited by

Saturday, December 1, 2012 - 12:23

Poesia :

No votes yet

topeneda

topeneda's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 7 years 14 weeks ago
Joined: 08/12/2011
Posts:
Points: 4308

Add comment

Login to post comments

other contents of topeneda

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Thoughts Rodízio à moda de cão 0 3.256 08/17/2011 - 08:05 Portuguese
Poesia/Thoughts Felicidade barata 0 1.858 08/17/2011 - 07:44 Portuguese
Poesia/Thoughts Ciclo vicioso 0 1.785 08/17/2011 - 07:41 Portuguese
Poesia/Thoughts Expropriação forçada 0 2.170 08/17/2011 - 07:36 Portuguese
Poesia/Thoughts Até o cú precisa de descanso! 0 1.755 08/17/2011 - 07:28 Portuguese
Poesia/Thoughts Defecar de alto e de repuxo 0 2.888 08/17/2011 - 07:18 Portuguese
Poesia/Thoughts Política à portuguesa 0 2.396 08/17/2011 - 07:14 Portuguese
Poesia/Thoughts Promessas untuosas 0 1.761 08/17/2011 - 07:09 Portuguese
Poesia/Thoughts Maldição quebrada 0 2.043 08/17/2011 - 07:06 Portuguese
Poesia/Thoughts Não há espiga. 0 1.641 08/17/2011 - 07:02 Portuguese
Poesia/Thoughts Auréola do martírio 0 3.396 08/17/2011 - 06:59 Portuguese
Poesia/Thoughts Estômago embrulhado 0 2.477 08/17/2011 - 06:55 Portuguese
Poesia/Thoughts O Sexo genuíno 0 2.166 08/13/2011 - 22:51 Portuguese
Poesia/Thoughts Conceber 0 2.254 08/13/2011 - 22:48 Portuguese
Poesia/Thoughts Cristos de marfim 0 5.313 08/13/2011 - 22:27 Portuguese
Poesia/Thoughts Crescer a pulso 0 6.305 08/13/2011 - 22:25 Portuguese
Poesia/Thoughts A confiança que nunca existiu 0 2.528 08/13/2011 - 22:22 Portuguese
Poesia/Thoughts Brutalidade humana 0 2.762 08/13/2011 - 22:18 Portuguese
Poesia/Thoughts Desonra impune 0 1.330 08/13/2011 - 22:16 Portuguese
Poesia/Thoughts Vegetarianismo 0 1.950 08/13/2011 - 22:12 Portuguese
Poesia/Thoughts O verdadeiro milagre 0 2.346 08/13/2011 - 22:09 Portuguese
Poesia/Thoughts O consolo da morte 0 1.625 08/13/2011 - 22:06 Portuguese
Poesia/Thoughts Autismo 0 1.647 08/13/2011 - 22:04 Portuguese
Poesia/Thoughts Moralidade de Cristão 0 2.484 08/13/2011 - 20:16 Portuguese
Poesia/Thoughts Doença de carácter 0 954 08/13/2011 - 20:13 Portuguese