Perdida a humanidade em mim

Perdi a humanidade,

Perdi-me da humanidade, não me posso achar mais nela,
A crescente nitidez em mim é igual a um um azul sem cal,
Olhos de perdiz em que os sonhos não se perdem,
Acrescentam o que vi em vida, vejo que me perdi desta gente,

Me perdi da humanidade e de tudo quanto fui e sou, agora nada
Me pertence, nada me vence, nada me acaba senão o despertar
De vez para cento e uma mil formas de ser que não havia
Em mim, isso me inclui sem dúvida num céu que perdeu o tom,

Deixai-me ouvir intenso o que não posso ver, o que nunca sonhei,
O meu próprio ser outro, não ter pensar como raiz d’pedra greda,
Desejos inúteis são pesos, vulgares apêndices, fálicos pesos
Ou fábrica de fúteis contas de efeito hipnótico em embalagens

De realidade em formol que não têm espécie alguma de sentir,
Nem nenhum elemento espiritual essencial, desses sem peso,
Nem preço, nasci para criar o que outros talvez não entenderão,
Estados de alma, projecções de ideais abstratos, ilúcidos,

Embora nítidos, todo o esforço foi em prol de separar-me
Do que sei e do que se ergue diante do meu passo de vista
Curva, visões e desarrumo, enquanto eu legitimo o céu
Solto, depois de retirados os castros e eunucos castelos

De praça quadradas e antigas, grandezas provisórias,
Sem alma, semelhante ao som de veículos de ferro
Chapa e solda, esquadrões da morte de um exército inteiro,
Desertado, coberto de alcatrão viscoso e palha solta, pregos,

Perdi a humanidade, o andar é um esforço em falso
E pode ser que nada valha, sei que  ainda não é o fim
Nem o princípio do desencanto, o mundo, é apenas tardio,
Os lusíadas um conto, Inefável é o que não pode ser dito

De verdade, Nem na sucessão dos deuses haverá Híades,
Princesas como promessas por cumprir, tratados “mundis”,
E esta humanidade sem comprimento nem encanto,
perdi-me da humanidade e de tudo quanto fui, agora nada sou,

Nada me pertence, nada me vence, nada me acaba,
Perdi a finalidade “ao-que-vim”, Perdida a humanidade
Em mim …

Joel Matos ( 04 Dezembro 2020)
http://joel-matos.blogspot.com
https://namastibet.wordpress.com

Submited by

Saturday, January 2, 2021 - 16:08

Poesia :

Your rating: None (1 vote)

Joel

Joel's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 1 week 3 days ago
Joined: 12/20/2009
Posts:
Points: 42103

Comments

Joel's picture

obrigado pela leitura e pela partilha

obrigado pela leitura e pela partilha

Add comment

Login to post comments

other contents of Joel

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General Feitiço da Terra 0 3.213 01/07/2011 - 16:55 Portuguese
Poesia/General Nem Que 0 3.039 01/07/2011 - 16:53 Portuguese
Poesia/General Flor Bela 0 2.146 01/07/2011 - 16:52 Portuguese
Poesia/General Manhã Manhosa 0 2.720 01/07/2011 - 16:51 Portuguese
Poesia/General Panfleto 0 2.134 01/07/2011 - 16:49 Portuguese
Poesia/General Pátria minha 0 4.960 01/07/2011 - 16:48 Portuguese
Poesia/General Quero fazer contigo ainda muitas primaveras... 0 5.184 01/07/2011 - 16:47 Portuguese
Poesia/General O templo 0 2.714 01/07/2011 - 16:46 Portuguese
Poesia/General cacos de sonhos 0 2.897 01/07/2011 - 16:44 Portuguese
Poesia/General O Triunfo do Tempo 0 3.028 01/07/2011 - 16:36 Portuguese
Poesia/General Nau d'fogo 4 5.446 01/07/2011 - 09:06 Portuguese
Poesia/General Carta a uma poeta 4 1.778 01/06/2011 - 14:00 Portuguese
Poesia/Gothic Dò,Ré,Mi... 1 3.105 12/30/2010 - 13:16 Portuguese
Poesia/General Príncipe Plebeu 1 2.769 12/29/2010 - 21:29 Portuguese
Poesia/General Tenho saudades de quando ignorava que havia mundo… 1 3.837 12/29/2010 - 21:26 Portuguese
Poesia/General buracos de alfinetes 2 4.503 12/22/2010 - 21:53 Portuguese
Prosas/Others o transhumante 0 3.412 12/21/2010 - 22:11 Portuguese
Prosas/Others N2 0 6.125 12/21/2010 - 22:08 Portuguese
Prosas/Contos Batel 0 4.997 12/21/2010 - 21:53 Portuguese
Prosas/Contos Horus 0 3.961 12/21/2010 - 21:52 Portuguese
Prosas/Fábula Núria's Ring 0 5.446 12/21/2010 - 21:50 Portuguese
Poesia/General Há-de vento 0 3.568 12/21/2010 - 10:21 Portuguese
Poesia/General Altos 0 6.321 12/21/2010 - 10:12 Portuguese
Poesia/General Flores Indizíveis 1 1.899 12/18/2010 - 21:47 Portuguese
Poesia/General Samarkand 1 4.603 12/17/2010 - 18:32 Portuguese