AMOR ENTRE DUAS MULHERES
"A PRIMEIRA VEZ EM QUE INÊS e MAFALDA FAZEM AMOR...
Nos primeiros momentos sentaram-se ambas no sofá maior. Ficaram tão perto uma da outra que conseguiam ouvir a respiração ofegante. Tal proximidade levou Mafalda a sentir-se uma vez mais perturbada. Afastou-se ligeiramente de Inês, sentindo-se inibida com a fragrância cativante do seu perfume, que pairava no ar em ondulações invisíveis, tal como havia acontecido no dia anterior.Sentia-se estranhamente hipnotizada por ela enquanto a via a olhá-la de novo com o seu descaramento envolvente, como se toda aquela proximidade visceral fosse natural e inevitável. Beberam o café em silêncio. Depois, desajeitadas, entreolhando-se, como se estivessem extasiadas uma pela outra. Inês insistia em fitá-la com os seus expressivos olhos verdes, com uma intensidade indescritível, envolvente. A respiração de ambas tornou-se ainda mais ofegante, desajeitada, enquanto os seus corpos pareciam querer juntar-se como se impelidos por um íman muito forte. Foi com uma voz repentinamente rouca que ouviu Inês segredar-lhe:
- Estou completamente atraída por ti. Desde que te conheço não penso noutro coisa senão em ti,não consigo evitá-lo, desculpa! – Afagou-a no rosto sem desviar o olhar. Mafalda, sentiu-se inquieta mas envolvida por aquela estranha magia. Com uma voz rouca, exclamou.
- Também sinto o mesmo, céus... e não podes imaginar o quanto isso me surpreende e está assustar! Esta situação era inimaginável há poucos dias atrás...! O que me está a acontecer?
- Oh... imagino… princesa!- Inesperadamente, Inês procurou os lábios de Mafalda. Num impulso, beijou-a com paixão, nos lábios.
Ao primeiro contacto, Mafalda estremeceu. Mas logo de imediato retribuiu aquele beijo apaixonadamente, como se sempre tivesse conhecido e beijado aquela mulher que agora a apertava nos seus braços, com uma intimidade desconcertante. O desejo invadiu-a estranhamente. O seu corpo trémulo, abria-se num desejo até aí completamente desconhecido. Quando se afastaram uma da outra ouviu Inês, explicar.
- Como te desejo... Mafalda! Nunca acreditei no amor à primeira vista, mas agora que te conheço acho que esse tipo de amor é uma possibilidade mais do que óbvia. A eterna tendência que temos de cuspir para o ar, leva-nos muitas vezes a deturpar os sinais, à constatação nua e crua da realidade, como se o destino nos quisesse dar as devidas lições. É uma loucura o que sinto, repentinamente por ti, a sério. Tenho a sensação que te conheço há séculos, é estranho. Sinto-me muito próxima de ti. No mais profundo do meu ser sei que és tu a companheira que idealizava há muito. Percebes? Estás a tremer Mafalda? Choco-te com tais palavras? - Inês fez uma pausa e fez uma careta de desânimo.
- Se estou a chocar-te, diz-me… porque não quero de forma alguma forçar nada. Se me pedires irei agora mesmo embora e compreenderei as tuas razões, entendes? Sinto que também não te sou indiferente mas se acaso estiver enganada, diz-me… é fulcral que o faças. Quero que saibas que sempre me senti atraída por mulheres porque sou lésbica, no entanto jamais senti por alguém algo parecido a isto… é inexplicável! Mas seria incapaz de forçar uma situação por maior atracção que sintamos uma pela outra. - Calou-se e respirou fundo. Mafalda, parecia ter-se alheado da conversa, como se sentissem hipnotizada por aquela voz sensual e serena. Apercebendo-se do repentino silêncio que se instalou, retorquiu:
- És lésbica Inês? Curiosamente não me sinto surpreendida porque é como se o tivesse pressentido desde o primeiro momento em que te vi. Tens uma forma estranha de olhar, até a maneira como me falas… nem sei. Ao mesmo tempo há tanta feminilidade em ti que dificilmente alguém o suspeitaria. Há sempre no nosso consciente a ideia estereotipada que a mulher lésbica tens traços masculinos e tu és tão bela, tão elegante! Uma mulher apetecível, e ainda por cima inteligente.
- Riu-se e prosseguiu, logo depois.
- Eu ao contrário de ti adoro homens, adoro sexo e já tive vários namorados. Presentemente tenho uma relação mais consistente, e amo-o. No entanto sinto-me perturbada desde que te conheci. E isso é incompreensível, não se justifica, percebes? Há um enorme desassossego em mim porque acho que pressenti tudo isto que está acontecer agora. É tão estranho. Simplificando e resumindo, o que me apetece é fugir de ti. Não sei exactamente como fazê-lo, porque acabei por seguir os meus instintos carnais e fazer o contrario do que a minha mente ponderada me sugere. Onde fica a razão quando nos assalta a paixão? É uma boa questão que tenho que decifrar depois... quem sabe! Agora...estou aqui contigo porque quero, porque o desejo, mas tu assustas-me, sabias? No entanto cativas-me completamente porque existe entre nós aquela química fantástica que nos faz sentir vivas. Vivo uma amontoar de contradições que não sei exprimir e só não me chocas com este beijo porque o desejei tanto como tu, Inês! Sabias que tens um olhar intensamente provocador?
Despes as pessoas com os olhos, com tal elegância, que te tornas convidativa, que lhes transmites com naturalidade o teu desejo.
- Espero que não seja assim um olhar tão provocador, como descreves. Inês, riu-se e acrescentou:
- Só olho desta forma para ti,é ponto assente. Até hoje, só tu desencadeaste em mim tal necessidade premente. Acredites ou não é a realidade dos factos. Não penses que sou daquele tipo estereotipado de lésbica que se atira à primeira mulher gira que encontra, essa não é a imagem mais agradável que procuram dar de nós como se de repente fôssemos todas uns animais depravados que se atiram às presas como os abutres.
- Que horror… pensar assim é tão primário que nem merece que o classifiquemos. Não achas que estás a exagerar Inês? Percebe-se facilmente que este tema te causa alguma paixão pela ironia…o que não podes pensar, é que todas as pessoas, pensam assim tão mal de vocês…
- Exacto, disseste bem, de nós! Sabes Mafalda?
Já estive sexualmente falando com algumas mulheres, o que é natural, já que esta é a minha tendência. No entanto nunca tive uma namorada a sério nem tão pouco ninguém por quem me tivesse apaixonado sem reservas. Acho que isso mudou ontem ao conhecer-te porque senti por ti o tal clic e isto… porque nós as lésbicas também somos humanas e temos sentimentos.
- É impressão minha ou estás a desconversar comigo? Parece que ficaste aborrecida quando salientei que não sou lésbica. Não sou de facto…ou então se sou, não sabia. Apenas ontem aconteceu sentir-me atraída fisicamente por uma mulher. Não penses no entanto que isso me está a deixar eufórica, bem pelo contrário, se queres que te diga estou cheia de medo! – Calou-se ao aperceber-se que Inês procurava de novo os seus lábios. O seu perfume inebriava-a completamente.
Beijou-a com sofreguidão, sugando-lhe a língua longamente. Mafalda, retribuiu aquele beijo ainda com maior fervor, como se quisesse eternizar o momento em si, para logo depois sacudir todo o tremor que atravessava o seu corpo febril, transformado num rio revolto, correndo para o mar.
-Se não fugir de ti, Mafalda, acho que vou ficar irremediavelmente apaixonada. Sinto medo mais por ti do que por mim, porque sei que amas um homem e que vais sofrer tumultos horríveis interiores depois destes momentos.Eu sinto que não te sou indiferente, percebes?
- Por favor, Inês, não digas nada, não fales... quero sentir-te assim… apenas. - Mafalda suspirou e abraçou-a como se lhe pedisse guarida. Numa súplica enrouquecida, exclamou: -Inês… Inês… faz amor comigo!
-Tens a certeza que é isso que queres, Mafalda? Pensando mais objectivamente e friamente, acho que é melhor eu ir embora…
-Não vás… ! O que mais desejo neste momento, é que fiques!. Quero que me ames… preciso desta loucura!
Sabes? Nunca estive com uma mulher. Sei no entanto que te desejo muito, neste momento. O resto é irrelevante... Fazes amor comigo, Inês?
- Oh, princesa, deixas-me sem fôlego, sinto vontade de chorar com essa tua pergunta tal é a emoção que sinto. Amar-te é tudo quanto mais desejo neste momento, mas tens mesmo a certeza que o queres fazer?
- Tenho… não sejas tonta! – Inês beijou-a de novo. Mordeu-lhe levemente os lábios e de seguida percorreu com a sua língua o pescoço de Mafalda. Arrancou-lhe gemidos com aquelas carícias. Mafalda, arfava de prazer, completamente rendida àquelas carícias. O tremor do seu corpo permanecia arrepiado, como se um frio de neve lhe atravessasse todos os poros, inesperadamente febril. De repente pegou nas mãos de Inês e puxando-a para si, suplicou: - Não consigo esperar mais...vamos… para o meu quarto?
Despiram-se lentamente uma à outra enquanto iam trocando alternadamente beijos e carícias.
Sentiam uma enorme pressa de explorar os corpos sedentos mas ao mesmo tempo faziam-no devagar como se quisessem eternizar a beleza de todos aqueles segundos. Entre gemidos e beijos acariciavam-se com ternura desfrutando e amando todos os poros dos seus corpos lânguidos e abertos ao prazer.
- Não tenhas medo, princesa… - Disse-lhe Inês ao ouvido num sussurro:
-Segue os teus instintos porque amar uma mulher é isso mesmo, é fazê-lo seguindo os nossos instintos porque ao fazê-lo por desejo tudo surge com naturalidade.
Inês apertou-a contra si nesse momento e beijou-lhe os seios. Mafalda contorceu-se não disfarçando o prazer que sentia.
Atiraram-se de seguida para cima da cama já completamente nuas e enlouquecidas pelo infinito desejo que sentiam uma pela outra.
Inês continuou a percorrer todos os poros do corpo de Mafalda com a língua como se fosse um barco a navegar no mais profundo oceano. Apenas parou quando lhe sentiu a humidade do ventre. Beijou-a aí demoradamente com êxtase total durante largos momentos até senti-la vibrar com espasmos ininterruptos de um prazer absoluto e inimaginável. Acariciou-lhe o sexo com suavidade, continuou a beijá-lo sem parar até que sentiu deslizar pela primeira vez a cascata ondulante que procurava com ânsia naquele corpo cavalgante e trémulo de prazer.
Tiveram um orgasmo quase em simultâneo e sentiram-se por isso muito felizes.
Exploraram o corpo uma da outra pela noite dentro num desejo insaciável com pequenos intervalos onde extenuadas dormiam um pouco.
Acordavam sedentas de desejo como se não pudessem esperar mais. Num desses intervalos Inês levantou-se e exclamou: - Vou lá dentro buscar um cigarro ao casaco, queres um?
-Quero… preciso muito de um cigarro também.
Quando Inês regressou ao quarto, Mafalda encontrava-se sentada na cama. Afagou-lhe os cabelos desordenados e colocando-lhe nos lábios um cigarro já aceso, perguntou-lhe: - Querida, diz-me, sentiste prazer?
- Senti Inês, muito prazer! É curioso… não pensei ser possível sentir tanto prazer, muito menos com uma mulher. Vou parecer-te ridícula, provavelmente, mas vou dizê-lo à mesma. - Sorriu.
- Sabias que nunca pensei ser possível ter um orgasmo e tamanho prazer, com uma mulher?
- Não…? Não mesmo? Bom, ainda bem que estás enganada. Se assim não fosse, eu estava tramada. Já viste o que seria de mim senão sentisse esse prazer? É que eu só gosto mesmo de mulheres.
Fazer amor com elas e não sentir o doce néctar de um orgasmo era, digamos, catastrófico, não achas?
Seria terrível! - Soltou uma sonora gargalhada, contagiando Mafalda que desatou também a rir.
De seguida opinou:
- Pois claro que sim. Era uma grande chatice mas é para veres a minha santa ignorância relativamente a este assunto. Por vezes as coisas reais passam-nos ao lado por mais cultos que nos intitulemos. É como se nos sentíssemos imunes a elas, como se o simples facto de pensar fosse por si proibido. Falo por mim! Tentamos sempre passar ao lado das coisas que por um ou por outro motivo não entendemos bem, depois de repente vemos-nos envolvidos por elas, ficamos abismados por nos parecerem absolutamente normais. Essa é a maior anormalidade…
- Estás arrependida de o ter feito Mafalda? Uma vez alguém me disse que o facto de uma mulher fazer sexo com outra, não faz dela uma lésbica, no entanto tu fizeste-o de uma forma tão autêntica que me atreveria a…
- Não o digas porque não é necessário.
É lógico que não me arrependo de ter feito amor contigo, foi óptimo para mim, ponto final. É tão simples como isso. O desenrolar dos acontecimentos ainda me deixa confusa mas não quero agora pensar nisso, entendes? A propósito… sinto que o meu corpo vai explodir de novo, queres?
Pela primeira vez tomou a iniciativa e puxando-a para si beijou com paixão os lábios de Inês.
- És sempre assim tão insaciável?
- Sou…
Apetece-me muito ter-te de novo nos meus braços porque este desejo é insuportável.
Vamos apagar este último fogo?
VÓNY FERREIRA
Extracto tirado do meu romance "O Despertar da Mariposa"
NOTA: Todos os poemas, e textos estão registados
Registo nº3329/2008 (Último Registo efectuado em Março 2009) Soc. Portuguesa de Autores e IGAC
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