Casimiro de Abreu : Pois não é?!

Ver cair o cedro anoso
Que campeava na serra,
Ver frio baixar à terra
O pobre velho bondoso
Que procurando repouso
Tropeçou na sepultura;
É triste, sim, é verdade,
Mas não tão grande a saudade
Nem a dor tão funda e dura,
Pois que ao velho e ao cedro altivo
Partido à voz da procela,
No mundo - jardim lascivo -
A vida foi longa e bela.

Mas ver a rosa do prado
Que a aurora deu cor e vida,
De manhã - flor do valado,
De tarde - rosa pendida!...

Mas ver a pobre mangueira
Na primavera primeira
Crescendo toda enfeitada
De folhas, perfume e flor,
Ouvindo o canto de amor
No sopro da viração;
Mas vê-la depois lascada
Em duas cair no chão!...

Mas ver o pobre mancebo
Em quem a seiva reluz,
No sonho cândido e puro
Nas glórias do seu futuro
Dourando a vida de luz
Mas vê-lo quando a sua alma
Ao som d'ignota harmonia
Se derramava em poesia;
Quando junto da donzela
- Cativo dos olhos dela -
Na voz que balbuciava
De amores falava a medo;
Quando o peito trasbordava
De crenças, de amor, de fé,
Vê-lo finar-se tão cedo,
Como as vozes dum segredo...
É dor demais - pois não é?!...

Indaiassú - 1857.

Submited by

Saturday, May 23, 2009 - 22:57

Poesia Consagrada :

No votes yet

CasimirodeAbreu

CasimirodeAbreu's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 14 years 16 weeks ago
Joined: 05/23/2009
Posts:
Points: 234

Add comment

Login to post comments

other contents of CasimirodeAbreu

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia Consagrada/Novel Casimiro de Abreu : Carolina – Capítulo VI : A Última Hora 0 1.562 11/19/2010 - 15:54 Portuguese
Poesia Consagrada/Novel Casimiro de Abreu : Carolina – Epílogo 0 1.737 11/19/2010 - 15:54 Portuguese
Poesia Consagrada/Dedicated Casimiro de Abreu : A*** 0 1.795 11/19/2010 - 15:54 Portuguese