GLOSAS V

5

O tempo, que Amor perdeu,
Finezas mal merecidas,
Promessas nunca cumpridas,
Nada d'isso chóro eu.

GLOSA

Graças aos céos, já não sinto
Aquella viva paixão,
Das liberdades prisão,
Dos corações labyrintho:
Já não lamento, nem pinto
Cruezas do genio teu;
A verdade emfim rompeu
Trevas d'esse engano antigo;
Nem já me lembra comtigo
«O tempo, que Amor perdeu.»

Reina em meu peito a alegria,
Minh'alma de todo é sua;
Brilhe o sol, ou gire a lua
Chegue a noute, ou venha o dia:
Sinto em dura antipathia
Minhas paixões convertidas;
Em mil vozes desabridas;
Troquei por justas razões
Amorosas expressões,
«Finezas mal merecidas.»

Virtude, só teus altares
Incensarei com fervor,
Proferindo contra Amor
Imprecações a milhares:
Loucuras, ancias, pezares
Elle causa ás tristes vidas;
E quando glorias subidas
Jura dar ao coração,
As suas promessas são
«Promessas nunca cumpridas.»

Queixe-se embora do Fado
Aquelle que vê, que alcança
Em vez de ternura, esp'rança,
Desprezo, rigor, enfado:
Chore-se qual desgraçado
O que a vontade rendeu:
Sabendo que vive o seu
Rival nos braços da amada;
Chore-se embora, que nada
«Nada d'isso chóro eu.»

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Sunday, September 20, 2009 - 23:54

Poesia Consagrada :

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