Poesias Inéditas - Deixo ao cego e ao surdo
Deixo ao cego e ao surdo
Deixo ao cego e ao surdo
A alma com fronteiras,
Que eu quero sentir tudo
De todas as maneiras.
Do alto de ter consciência
Contemplo a terra e o céu,
Olho-os com inocência :
Nada que vejo é meu.
Mas vejo tão atento
Tão neles me disperso
Que cada pensamento
Me torna já diverso.
E como são estilhaços
Do ser, as coisas dispersas
Quebro a alma em pedaços
E em pessoas diversas.
E se a própria alma vejo
Com outro olhar,
Pergunto se há ensejo
De por isto a julgar.
Ah. tanto como a terra
E o mar e o vasto céu,
Quem se crê próprio erra,
Sou vário e não sou meu.
Se as coisas são estilhaços
Do saber do universo,
Seja eu os meus pedaços,
Impreciso e diverso.
Se quanto sinto é alheio
E de mim sou ausente,
Como é que a alma veio
A acabar-se em ente ?
Assim eu me acomodo
Com o que Deus criou,
Deus tem diverso modo
Diversos modos sou.
Assim a Deus imito,
Que quando fez o que é
Tirou-lhe o infinito
E a unidade até.
Submited by
Poesia Consagrada :
- Login to post comments
- 587 reads
other contents of FernandoPessoa
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Mas eu, alheio sempre, sempre entrando | 0 | 980 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Mas o hóspede inconvidado | 0 | 1.094 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Minha alma sabe-me a antiga | 0 | 1.174 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Minhas mesmas emoções | 0 | 1.830 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Minha mulher, a solidão | 0 | 805 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Na noite que me desconhece | 0 | 374 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Não digas nada! | 0 | 765 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Não quero rosas, desde que haja rosas. | 0 | 1.104 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - No Fim da chuva e do vento | 0 | 667 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - O abismo é o muro que tenho | 0 | 697 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - O Amor | 0 | 826 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Fito-me frente a frente ( I ) | 0 | 717 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Fito-me frente a frente ( II ) | 0 | 414 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Flui, indeciso na bruma | 0 | 654 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Glosa | 0 | 819 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Glosas | 0 | 744 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Gnomos do luar que faz selvas | 0 | 940 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Gostara, realmente | 0 | 1.241 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Gradual, desde que o calor | 0 | 786 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Grande sol a entreter | 0 | 983 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Há uma música do povo | 0 | 673 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Já ouvi doze vezes dar a hora | 0 | 520 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Há um frio e um vácuo no ar | 0 | 920 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Ladram uns cães a distância | 0 | 1.002 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Em torno ao candeeiro desolado | 0 | 682 | 11/19/2010 - 16:55 | Portuguese |
Add comment