Cancioneiro - De quem é o olhar

De quem é o olhar

De quem é o olhar
Que espreita por meus olhos?
Quando penso que vejo,
Quem continua vendo
Enquanto estou pensando?
Por que caminhos seguem,
Não os meus tristes passos,
Mas a realidade
De eu ter passos comigo?

Às vezes, na penumbra
Do meu quarto, quando eu
Por mim próprio mesmo
Em alma mal existo,

Toma um outro sentido
Em mim o Universo —
É uma nódoa esbatida
De eu ser consciente sobre
Minha idéia das coisas.

Se acenderem as velas
E não houver apenas
A vaga luz de fora —
Não sei que candeeiro
Aceso onde na rua —
Terei foscos desejos
De nunca haver mais nada
No Universo e na Vida
De que o obscuro momento
Que é minha vida agora!

Um momento afluente
Dum rio sempre a ir
Esquecer-se de ser,
Espaço misterioso
Entre espaços desertos
Cujo sentido é nulo
E sem ser nada a nada.
E assim a hora passa
Metafisicamente.

Fonte: http:// www.ciberfil.hpg.ig.com.br

Submited by

Wednesday, September 30, 2009 - 14:54

Poesia Consagrada :

No votes yet

FernandoPessoa

FernandoPessoa's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 14 years 13 weeks ago
Joined: 12/29/2008
Posts:
Points: 745

Add comment

Login to post comments

other contents of FernandoPessoa

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Às vezes entre a tormenta 0 870 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Atravessa esta paisagem o meu sonho 0 1.065 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Autopsicografia 0 923 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - (?) Azul ou verde ou roxo 0 858 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Baladas de uma outra terra 0 1.045 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Bate a luz no cimo... 0 817 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Brilha uma Voz na Noute ... 0 956 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Canção 0 765 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - Poemas dos Dois Exílios - Vendaval 0 593 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - Poemas dos Dois Exílios - Vou com um passo como de ir parar 0 794 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Abat-Jour 0 1.277 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Abdicação 0 704 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Abismo 0 756 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - A Grande Esfinge do Egito 0 743 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - A minha vida é um barco abandonado 0 675 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - A morte chega cedo 0 1.242 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Andei léguas de sombra 0 571 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - A alcova 0 928 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Cancioneiro - Ao longe, ao luar 0 872 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - Poemas dos Dois Exílios - Quanta mais alma ande no amplo informe 0 1.577 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - Poemas dos Dois Exílios - Que suave é o ar! Como parece 0 719 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - Poemas dos Dois Exílios - Relógio, morre 0 957 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - Poemas dos Dois Exílios - Se alguém bater um dia à tua porta 0 710 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - Poemas dos Dois Exílios - Se tudo o que há é mentira 0 917 11/19/2010 - 15:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - Poemas dos Dois Exílios - Sim, tudo é certo logo que o não seja 0 1.431 11/19/2010 - 15:55 Portuguese