APÓLOGOS V

5

As damas e a borboleta

Batendo as azinhas leves,
Matizadas de mil côres,
Ia veloz borboleta
Libar o sueco das flôres.

Anhelante, cubiçosa,
Voou a ameno jardim,
E a flôr, que tocou primeiro,
Foi o candido jasmim.

Da bonina côr de neve
Esquivou-se, desdenhosa,
Practicando egual desprezo
Co'a fragrante, idalia rosa.

Sobre insipido, amarello
Malmequer em fim pousou,
E n'elle o vivo appetite
A mitigar começou.

Não longe d'ali jaziam
Duas mimosas donzellas,
Taes que, a serem tres, seriam
De Venus as filhas bellas.

Tendo seguido co'a a vista
Os vôos do lindo insecto,
Uma d'ellas para a outra
Disse com iroso aspecto:

«Olha a brutinha! Bem mostra
De razão não ser dotada;
Deixa o jasmim, deixa a rosa,
E do malmequer se agrada!»

Ouviu isto a borboleta,
Fitou-lhe os olhos, e assim
Co'a voz, que teve algum dia,
Perguntou: «Fallaes de mim ?

«Suppondes extravagante
A escolha, que tenho feito?
Ah vaidosas ! Que não vêdes
Vosso principal defeito !

«Despi, loucas, o amor proprio,
E depois conhecereis
Que fallaes contra vós mesmas
No que contra mim dizeis.

«Quem faz mais errada escolha
Que a mulher? Sendo a melhor
De todas as creaturas,
Sempre se inclina ao peor;

«E só nutre, só conserva
Amor firme, ardente, e liso
Se encontra no objecto d'elle
O nome da flôr, que pizo.»

Submited by

Sunday, October 11, 2009 - 17:14

Poesia Consagrada :

No votes yet

Bocage

Bocage's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 14 years 42 weeks ago
Joined: 10/12/2008
Posts:
Points: 1162

Add comment

Login to post comments

other contents of Bocage

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia Consagrada/General ADIVINHAÇÕES V 0 2.023 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General ADIVINHAÇÕES VI 0 2.654 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General ADIVINHAÇÕES VII 0 2.584 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS I 0 1.438 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS II 0 1.233 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS III 0 1.708 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS IV 0 1.475 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS V 0 1.255 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS VI 0 1.811 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS VII 0 1.593 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XVI 0 2.569 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XVII 0 1.371 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/Aphorism APÓLOGOS XVIII 0 2.285 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XIX 0 1.417 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XX 0 1.631 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XXI 0 1.234 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XXII 0 1.456 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XXIII 0 2.033 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XXIV 0 1.383 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XXV 0 1.329 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XXVI 0 1.414 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XXVII 0 1.538 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS XXVIII 0 1.844 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS III 0 1.550 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General APÓLOGOS IV 0 1.459 11/19/2010 - 16:55 Portuguese