Entrevista do mês de Setembro de 2009: Sophie Gaarder
Ficha Técnica
- Obra Marcante: “Os Passos em Volta”, Herberto Helder
- Fonte de Inspiração: quadros, palavras, emoções, contemplações (de gestos, expressões, paisagens)
- Filme Preferido: “O Fabuloso Destino de Amélie”
- Canção de Eleição: Depende do dia, mas gosto essencialmente das canções de Keith Jarrett, Leonard Cohen, Jamie Cullum, Coldplay e Chet Baker.
- A Imagem que Valeu Mil Palavras: Um olhar, uma mão que se demora noutra, um silêncio – uma emoção que dialoga, profunda.
- Uma palavra para a descrever a si: Diria “concha”, mas já me descreveram como “diferente” e “novelo”.
- O Jantar Perfeito: Há sempre um melhor, muda de dia para dia e consoante as estações.
-A sua escrita denota influências de vários estilos, o que, por sua vez, faz com que a escrita da Sophie seja única. Quais são as suas influências?
Não sei ao certo, penso que tudo me influencia de algum modo, uma vez que vou absorvendo, de cada leitura, o que mais me toca, tanto em poesia como em prosa. Na verdade, comecei a escrever poesia antes de a ler com alguma regularidade, de modo que as minhas primeiras influências foram as que lia nos manuais escolares, ou num ou outro livro que folheava na biblioteca, principalmente Alexandre O’Neill, Pablo Neruda, Florbela Espanca, Eugénio de Andrade e Fernando Pessoa. Mais tarde, apaixonei-me pela escrita de Nuno Júdice, de Al Berto, de Dylan Thomas e de Alexander Search. Em relação à prosa, adoro Oscar Wilde, Stefan Zweig, Hermann Hesse, o livro “Palomar” de Italo Calvino, “Viagem de um pai e de um filho pelas ruas da amargura” de Baptista-Bastos e estou, de momento, a entrar em Marcel Proust.
Livros sobre Arte são também uma grande fonte de inspiração, onde tento compreender a origem dos quadros apresentados e procuro apreender os múltiplos significados de objectos, situações e ambientes.
-A Sophie tende a descrever na sua poesia uma variedade de emoções. O que lhe inspira estes sentimentos – a sua alma e/ou a alma do mundo?
Acima de tudo escrevo o que sinto. Parto de uma recordação e vou seguindo a emoção que me tomar. Demoro-me no som das palavras, no efeito dos versos... risco, rasgo, refaço, paro, retomo e, pouco a pouco, vou elaborando o poema; muitas vezes baseado em apontamentos que fiz ao longo dos dias, de trechos de versos que foram surgindo, de uma palavra que encontrei num Dicionário de Símbolos e que é a imagem exacta de um dado sentimento, ou de imagens que se cruzam num amontoado de lembranças embebidas de desejo e emoção.
-Existe uma Sophie activista, interligada com o mundo exterior na sua poesia e uma Sophie mais introvertida, dedicada a escrever um mundo só seu. A sua alma de poeta divide-se em estes dois mundos, ou podemos aguardar a sua escrita em novas áreas da literatura?
Sou introvertida, a minha ligação com o exterior é essencialmente com o mundo em si como objecto de espanto e meditação. Adoro observar: as pessoas, a paisagem, os quadros de uma sala, os edifícios antigos... tentar perceber como é que uma dada pessoa é a partir dos seus movimentos, das suas expressões, das suas conversas; observar paisagens, principalmente montanhosas, e sentir a infinidade da natureza em comparação com aquilo que sou... querer mais, pretender exceder-me; contemplar quadros como quem busca uma compreensão linear ou simplesmente sensorial; observar edifícios rachados, envoltos de heras, e imaginar toda a sua história anterior.
Se irei ou não entrar noutras temáticas é algo que só o tempo o pode dizer, uma vez que depende das voltas que a vida der e das voltas que eu souber dar.
-A sua escrita é essencialmente feminina e de uma sensibilidade que transparece em cada palavra que escolhe em cada uma das suas poesias. O dom de escolher as palavras que representam as suas emoções e também daqueles que a leiem e se identificam com o seu estado de alma é algo raro. Procura escolher as palavras, ou as palavras escolhem-na a si?
Depende. Por vezes leio, ou oiço, uma palavra que, por alguma razão me toca. Se assim o for, deixo-a gotejar no ar e tento captá-la, impondo-lhe um sentido, numa frase. Às vezes, destoa, sinto-a indubitavelmente ridícula num contexto poético, porque me “soa” agressiva ou agreste, e desisto de a usar; noutros casos, deixo-a flutuar, sigo-a.... sinto que me agrada e aponto-a num bloco para a assimilar. Ocorre que, muitas vezes, nesse preciso momento me lembro da exacta palavra que, ao seu lado, me ecoa como ideal - e escrevo-as juntas, unidas... num sentido ainda meio abstracto, mas já numa ilusão de um todo, esperando que outra lhes surja, com o tempo.
-A Sophie é, sem dúvida, uma das poetas no WAF com mais admiradores da sua escrita. No mundo virtual onde se encontra cada vez mais escritos com maior facilidade, como se distingue um escritor de alguém que apenas escreve?
Eu apenas escrevo. Um escritor é alguém que possui uma grande maturidade, que sabe expressar-se com uma naturalidade invejável e consegue transmitir toda e qualquer sensação a quem o lê. É aquele cujas palavras se entranham, nos fazem visualizar um mundo completo, e materialmente impenetrável, e nos fazem proclamar, palavra a palavra, algumas frases (meio soltas, meio repetidas...) que nos fazem sentir intensamente cada emoção como se de nós proviesse... como se aquelas palavras fossem exactamente aquilo que gostaríamos de saber escrever para nos expressarmos inteiramente.
Texto introdutório por: Ex-Ricardo
Entrevista realizada por: Adriana Pereira
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Comments
Re: Entrevista do mês de Setembro de 2009: Sophie Gaarder
adorei a entrevista!
és linda, Sophie!..e escreves como só tu!
um gde beijinho!
tua fã, desde a primeira hora! :-)
Jilly
Re: Entrevista do mês de Setembro de 2009: Sophie Gaarder
Parabens Ex-Ricardo e Adriana pela entrevista tao bem elaborada! E agora uma salva de palmas para a Sophie, por continuar a ser uma escritora de imenso talento, que todos nós adoramos!
Beijinho enorme!
Re: Entrevista do mês de Setembro de 2009: Sophie Gaarder
Adorei a tua definição de escritor Sophie. :-)
Nós próprios não conseguimos ver se atingimos esse patamar de ser escritor. Mas.... caminhas nesse sentido! :-)
Já o serás antes de o pensares ser....
Felicidades Sophie.
Bjs
Catherina
Re: Entrevista do mês de Setembro de 2009: Sophie Gaarder
A Sophie é uma pessoa muito intelegente e esta é uma das melhores entrevistas que li, ela tem um sentido critico, um cuidado quando comenta algo, tem dominio de analise. beijo
Re: Entrevista do mês de Setembro de 2009: Sophie Gaarder
Olá Sophie,
"Eu apenas escrevo" e tocas a alma de quem te lê :-)
Beijinhos
Da tua admiradora
Isabel
Re: Entrevista do mês de Setembro de 2009: Sophie Gaarder
EX-RICARDO/ADRIANA PEREIRA
REF.: SOPHIE GAARDER
LI, E GOSTEI MUITO, COMO TENHO BASTANTE PARA APRENDER, ME FOI MUITO ÚTIL O TEXTO!
PRETENDO ACOMPANHAR AS OBRAS DA ENTREVISTADA, QUE TAMBÉM GOSTEI!
MUITO BRIGADO,
MarneDulinski