Intuição feminina dos pés à cabeça

Todos os dias acordava pensando em suas possibilidades. Chamava o bom humor a colocar os pés juntos no chão, distribuindo “bom dia” para todo lado. Para os passarinhos, cachorro, para a mãe, que dormia com um olho aberto e outro fechado, sem perder nenhum lance no movimento da casa, quem entra, quem sai, quem já comeu, o que está fazendo e lembrar para fechar a porta.
Mas nem sempre o humor era pontual, num estalar de dedos às 6 horas da manhã. Era um esforço danado. A mente antecipava toda a agenda do dia, contando não carneirinhos, mas leões que viriam pela frente para domá-los corajosamente. E ao final do dia, claro, ninguém é de ferro, um Happy hour no meio do caminho, só para relaxar mente e corpo e se nutrir de amizade e esperança.
Tomava café, saía para a rua e andando algumas quadras ali estava ele, “sujeito estranho de olhar curioso”. Chegava de carro, parava, abria a porta, deixava aberta e ficava sentado, exercitando seus neurônios com algumas cruzadas. Outras vezes em pé, filmando todo mundo que passava”. Ficava esperando o que? Abrir alguma loja onde trabalhava?”
Fisionomia intrigante, o quarentão era esbelto, bem alinhado, passado a ferro por inteiro, cabelos penteados numa escovada só, é o que lhe parecia. Eram pretos, muito pretos, seriam tingidos? Curioso, ficava olhando-a passar, sem cerimônia nem dó. Ficava até com medo de tropeçar, caso fitasse demais a composição do sujeito. O mistério no ar pairou por meses, até que numa manhã intuitiva...
Passou por ali mais cedo e viu que o quarentão não estava lá. Olhou para as portas das lojas ainda fechadas e eis que avistou numa delas, uma plaquinha dizendo “Central de implantes de cabelo”. Finalmente pôde matar a charada. Aquela franja simétrica acabou revelando a verdade: tratava-se da cobertura artificial de uma simples careca. Rir ou chorar, eis a questão.
“É dos carecas que elas gostam mais?”, perguntou-se, entre o riso e a surpresa, riscando uma interrogação na sua lista de possibilidades, aquele flerte um tanto calvo.

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Sunday, March 13, 2011 - 23:54

Ministério da Poesia :

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