Caminhada (Mauricio Ponsancini)

Sei que minha caminhada tem um destino e uma direção,
por isso devo medir meus passos,
prestar atenção no que faço
e no que fazem os que por mim também passam
ou pelos quais passo eu...

Que eu não me iluda com o ânimo e o vigor dos primeiros trechos,
porque chegará o dia em que os pés não terão tanta força
e se ferirão no caminho e se cansarão mais cedo...

Todavia, quando o cansaço houver,
que eu não me desespere
e acredite que ainda terei forças para continuar,
principalmente quando houver quem me auxilie...

É oportuno que, em meus sorrisos,
eu me lembre de que existem os que choram,
que, assim, meu riso não ofenda a mágoa dos que sofrem:
por outro lado, quando chegar a minha vez de chorar,
que eu não me deixe dominar pela desesperança,
mas que eu entenda o sentido do sofrimento,
que me nivela, que me iguala,
que torna todos os homens iguais...

Quando eu tiver tudo, farnel e coragem,
água no cantil, e ânimo no coração,
bota nos pés e chapéu na cabeça,
e, assim, não temer o vento e o frio, a chuva e o tempo.

Que eu não me considere melhor do que aqueles que ficarão atrás,
porque pode vir o dia em que nada terei mais para minha jornada
e aqueles que ultrapassei na caminhada,
me alcançarão e também poderão fazer como eu fiz
e nada de fato fazer por mim,
que ficarei no caminho sem concluí-lo...

Quando o dia brilhar,
que eu tenha vontade de ver a noite
em que a caminhada será mais fácil e mais amena;
quando for noite porém,
e a escuridão tornar mais difícil a chegada,
que eu saiba esperar o dia como aurora,
o calor como bênção...

Que eu perceba que a caminhada sozinho
pode ser mais rápida,
mas muito mais vazia...

Quando eu tiver sede,
que encontre a fonte no caminho,
quando eu me perder,
que ache a indicação, a seta, a direção...

Que eu não siga os que desviam,
mas que ninguém se desvie seguindo os meus passos...

Que a pressa em chegar não me afaste da alegria de ver as flores simples
que estão a beira da estrada,
que eu não pertube a caminhada de ninguém,
que eu entenda que seguir faz bem,
mas que, às vezes,
é preciso ter-se a bravura de voltar atrás
e recomeçar e tomar outra direção...

Que eu não caminhe sem rumo,
que eu não me perca nas encruzilhadas,
mas que eu não tema os que assaltam-me,
os que embuçam,
mas que eu vá onde devo ir e,
se eu cair no meio do caminho,
que fique a lembrança de minha queda
para impedir que outros caiam no mesmo abismo...

Que eu chegue, sim,
mas, ainda mais importante,
que eu faça chegar quem me perguntar,
quem me pedir conselho,
e acima de tudo, me seguir, confiando em mim!

 

Maurício Ponsancini, poeta.
 

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Domingo, Agosto 7, 2011 - 23:22

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