AÇUDE ÁCIDO

Caminho que o vento rasga
o olhar em lágrimas, a lua desfocada.
Membrana que a noite engasga deposta
num grito açoite por ornatos tristes. Saudade.

Tecto em orgia entre chãos e paredes
que se alvoram de vozes presas nas redes do tempo.

Receituário de águas azougadas
e pedras ridículas onde se ajoelham as palavras
como mosquitos tontos num firmamento de musas.

Sinuosidade lapsa como tecido insano
onde a sombra colapsa sobre a traqueia do siso.

O silêncio é um pano transcendente cuja nódoa
oculta num segundo foge em pés de taciturnidade.

Isco a nada
numa mortalha de padrões ininteligíveis
como ferida que só a respiração da morte cura.

O corpo como um barco feito de marés
em trânsito pelos lábios pintados de uma sepultura.

Linguagem de hálito supérfluo.
Língua de ilusões padroeiras da loucura
num aplauso de pedras corriqueiras. Alienadas!

A alma represada num açude ácido.
Teia de arrepios como beijo de litro seco.

O sonho é uma noz,
grão breve moído por mós
em cor de culpa nas entrelinhas tortas
de um rio ionizado pela radiância de voar até à foz.

Carambola em passo urbano como cascata
de velocidades estátuas presas ao chão das mãos.

Mil e um nãos no ar,
ácaro de nuvens negras no céu da boca. Solidão.

Rosa brava por onde o amor
se destrava pela encosta do ser e morre.

 

 

Submited by

Domingo, Octubre 23, 2011 - 04:21

Poesia :

Henrique

Imagen de Henrique
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 9 años 33 semanas
Integró: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Henrique

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Pensamientos DA POESIA 1 8.502 05/26/2020 - 23:50 Portuguese
Videos/Otros Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. 1 47.135 06/11/2019 - 09:39 Portuguese
Poesia/Tristeza TEUS OLHOS SÃO NADA 1 6.847 03/06/2018 - 21:51 Portuguese
Poesia/Pensamientos ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO 4 6.867 02/28/2018 - 17:42 Portuguese
Poesia/Pensamientos APALPOS INTERMITENTES 0 6.695 02/10/2015 - 22:50 Portuguese
Poesia/Aforismo AQUILO QUE O JUÍZO É 0 6.578 02/03/2015 - 20:08 Portuguese
Poesia/Pensamientos ISENTO DE AMAR 0 7.118 02/02/2015 - 21:08 Portuguese
Poesia/Amor LUME MAIS DO QUE ACESO 0 6.983 02/01/2015 - 22:51 Portuguese
Poesia/Pensamientos PELO TEMPO 0 5.622 01/31/2015 - 21:34 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO AMOR 0 5.369 01/30/2015 - 21:48 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO SENTIMENTO 0 5.300 01/29/2015 - 22:55 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO PENSAMENTO 0 6.026 01/29/2015 - 19:53 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO SONHO 0 4.723 01/29/2015 - 01:04 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO SILÊNCIO 0 6.029 01/29/2015 - 00:36 Portuguese
Poesia/Pensamientos DA CALMA 0 5.452 01/28/2015 - 21:27 Portuguese
Poesia/Pensamientos REPASTO DE ESQUECIMENTO 0 4.548 01/27/2015 - 22:48 Portuguese
Poesia/Pensamientos MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE 0 5.609 01/27/2015 - 16:59 Portuguese
Poesia/Aforismo NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ 0 5.335 01/26/2015 - 20:44 Portuguese
Poesia/Pensamientos SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO 0 6.280 01/25/2015 - 22:36 Portuguese
Poesia/Pensamientos MIGALHAS DE SAUDADE 0 4.158 01/22/2015 - 22:32 Portuguese
Poesia/Pensamientos ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO 0 4.910 01/21/2015 - 18:00 Portuguese
Poesia/Pensamientos PALAVRAS À LUPA 0 5.539 01/20/2015 - 19:38 Portuguese
Poesia/Pensamientos MADRESSILVA 0 4.362 01/19/2015 - 21:07 Portuguese
Poesia/Pensamientos NA SOLIDÃO 0 6.299 01/17/2015 - 23:32 Portuguese
Poesia/Pensamientos LÁPIS DE SER 0 5.826 01/16/2015 - 20:47 Portuguese