A chegada da caixa de abelhas (Sylvia Plath)

Encomendei esta caixa de madeira
Clara, exata, quase um fardo para carregar.
Eu diria que é um ataúde de um anão ou
De um bebê quadrado
Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa.

Está trancada, é perigosa.
Tenho de passar a noite com ela e
Não consigo me afastar.
Não tem janelas, não posso ver o que há dentro.
Apenas uma pequena grade e nenhuma saída.

Espio pela grade.
Está escuro, escuro.
Enxame de mãos africanas
Mínimas, encolhidas para exportação,
Negro em negro, escalando com fúria.

Como deixá-las sair?
É o barulho que mais me apavora,
As sílabas ininteligíveis.
São como uma turba romana,
Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu Deus, juntas!

Escuto esse latim furioso.
Não sou um César.
Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos.
Podem ser devolvidos.
Podem morrer, não preciso alimentá-los, sou a dona.

Me pergunto se têm fome.
Me pergunto se me esqueceriam
Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore.
Há laburnos, colunatas louras,
Anáguas de cerejas.

Poderiam imediatamente ignorar-me.
No meu vestido lunar e véu funerário
Não sou uma fonte de mel.
Por que então recorrer a mim?
Amanhã serei Deus, o generoso – vou libertá-los.

A caixa é apenas temporária.

Sylvia Plath, poema traduzido por Ana Cândida Perez e Ana Cristina César.

Submited by

Domingo, Julio 8, 2012 - 22:46

Poesia :

Sin votos aún

AjAraujo

Imagen de AjAraujo
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 5 años 51 semanas
Integró: 10/29/2009
Posts:
Points: 15584

Comentarios

Imagen de Henricabilio

Até a ordeira fúria reclama a

Até a ordeira fúria
reclama a sua liberdade.
A nós resta a contemplação
da beleza da natureza.

Saudações!

_Abilio

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of AjAraujo

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Poetrix Poemas - de "Magma" (Guimarães Rosa) 2 23.417 06/11/2019 - 11:48 Portuguese
Videos/Musica Ave Maria - Schubert (Andre Rieu & Mirusia Louwerse) 1 44.764 06/11/2019 - 11:02 Inglés
Poesia/Fantasía Cabelos de fogo 0 4.172 04/28/2018 - 21:38 Portuguese
Poesia/Dedicada A criança dentro de ti 0 3.028 04/28/2018 - 21:20 Portuguese
Poesia/Pensamientos O porto espiritual 0 3.984 04/28/2018 - 21:00 Portuguese
Poesia/Dedicada Ano Novo (Ferreira Gullar) 1 3.198 02/20/2018 - 19:17 Portuguese
Prosas/Drama Os ninguéns (Eduardo Galeano) 0 3.825 12/31/2017 - 19:09 Portuguese
Poesia/Dedicada Passagem de ano (Carlos Drummond de Andrade) 0 4.490 12/31/2017 - 18:59 Portuguese
Prosas/Contos Um conto de dor e neve (AjAraujo) 0 5.469 12/20/2016 - 11:42 Portuguese
Prosas/Contos Conto de Natal (Rubem Braga) 0 5.182 12/20/2016 - 11:28 Portuguese
Prosas/Contos A mensagem na garrafa - conto de Natal (AjAraujo) 0 6.108 12/04/2016 - 13:46 Portuguese
Poesia/Intervención Educar não é... castigar (AjAraujo) 0 3.259 07/08/2016 - 00:54 Portuguese
Poesia/Intervención Dois Anjos (Gabriela Mistral) 0 5.967 08/04/2015 - 23:50 Portuguese
Poesia/Dedicada Fonte (Gabriela Mistral) 0 4.129 08/04/2015 - 22:58 Portuguese
Poesia/Meditación O Hino Cotidiano (Gabriela Mistral) 0 4.967 08/04/2015 - 22:52 Portuguese
Poesia/Pensamientos As portas não são obstáculos, mas diferentes passagens (Içami Tiba) 0 4.932 08/02/2015 - 23:48 Portuguese
Poesia/Dedicada Pétalas sobre o ataúde - a história de Pâmela (microconto) 0 6.032 03/30/2015 - 11:56 Portuguese
Poesia/Dedicada Ode para a rendição de uma infância perdida 0 5.739 03/30/2015 - 11:45 Portuguese
Poesia/Tristeza Entre luzes e penumbras 0 4.226 03/30/2015 - 11:39 Portuguese
Poesia/Tristeza No desfiladeiro 1 6.395 07/26/2014 - 00:09 Portuguese
Poesia/Intervención Sinais da história 0 4.221 07/17/2014 - 00:54 Portuguese
Poesia/Fantasía E você ainda acha pouco? 0 5.210 07/17/2014 - 00:51 Portuguese
Poesia/Aforismo Descanso eterno 2 5.628 07/03/2014 - 22:28 Portuguese
Poesia/Intervención Paisagem (Charles Baudelaire) 0 5.404 07/03/2014 - 03:16 Portuguese
Poesia/Meditación Elevação (Charles Baudelaire) 0 5.332 07/03/2014 - 03:05 Portuguese