Aroma da realidade

E assim sem mais, pouco a pouco as gotas marcavam o chão de madeira velha, um barulho quase tão sutil quanto de uma folha caindo ao pé da mesa enferrujado. Gotas de um vermelho encantador, com o reflexo da luz tornando-as hora como um vinho, hora vivas como o sangue, destoavam de todo o silêncio contido no tempo.
Tempo este tão vazio quanto às lembranças, quanto às ideias, tanto quanto a falta de planos, como os corpos ali presentes e apenas presentes, seguindo suas sinas.  Sem sombras, sem reflexos, sem espelhos, apenas portas e pequenas janelas, sem deixar espaço para sonhos, tão pouco espaço para esperanças, apenas sobreviver, destoados de toda a realidade, que volta e meia, retorna para lhes assombrar.
As palavras distantes, não se faziam necessárias diante de tantos murmúrios, explicar já não estava presente em suas necessidades como pessoa, tão pouco o que restava de sua dignidade, estava ausente assim como sua alegria.
Os meses passam, fevereiro, março, maio, agosto, da vida, das sobras, da esperança em Deus, dor lentamente assimilada pelo seu olhar, em partes tristes e em certas horas vazio. Apenas mais um momento congelado, destoado, ignorado, inexistente para outros tantos, apenas mais uma lagrima que dificilmente faria brotar algo novo e quem sabe se possível e permitido, apenas mais um instante de dor.
Meia hora, uma ou duas passadas na eternidade dos segundos, quem saberia dizer, indiferente para quem não vive, apenas sobrevive. Apenas deixando as paredes ásperas de tristes histórias, olhos fixos no vazio, sentir o aroma espalhado pelo lugar, mistura do pouco que se tem com os sonhos que nunca realizará. Um adeus, um até logo, calçar os sapatos, deixar de lado por momentos a miséria e ir trabalhar.

Submited by

Miércoles, Octubre 24, 2012 - 13:27

Prosas :

Sin votos aún

Pablo Gabriel

Imagen de Pablo Gabriel
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 3 años 46 semanas
Integró: 05/02/2011
Posts:
Points: 2944

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Pablo Gabriel

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Críticas/Varios O futebol é simples, complicado são os esquemas táticos. 0 4.679 05/24/2021 - 14:23 Portuguese
Poesia/Meditación [A mesa está posta] 0 2.237 05/13/2021 - 20:02 Portuguese
Poesia/Meditación [Nós] 0 3.744 01/11/2021 - 14:44 Portuguese
Poesia/Meditación [Neon] 0 2.785 07/23/2020 - 14:32 Portuguese
Poesia/Pasión [Negra] 0 3.043 05/22/2020 - 18:23 Portuguese
Poesia/Meditación [Pulsar] 0 3.022 04/30/2020 - 19:43 Portuguese
Poesia/Meditación [Teias] 0 4.464 03/16/2020 - 14:24 Portuguese
Poesia/Pensamientos [As vozes] 0 3.595 02/12/2020 - 19:15 Portuguese
Poesia/Meditación [Vento] 0 4.656 02/10/2020 - 14:13 Portuguese
Poesia/Pensamientos [Queda] 0 3.996 01/23/2020 - 20:15 Portuguese
Poesia/Amor [Invisíveis] 0 3.657 01/06/2020 - 18:06 Portuguese
Poesia/Meditación [Casas invisíveis] 0 5.787 12/13/2019 - 17:59 Portuguese
Poesia/Meditación [PÓ] 0 5.301 12/09/2019 - 15:01 Portuguese
Poesia/Pensamientos [A hora mais escura] 0 4.052 09/27/2019 - 18:59 Portuguese
Poesia/Pensamientos [Urubus] 1 3.965 09/27/2019 - 13:24 Portuguese
Poesia/Pensamientos [Fantasma] 0 3.731 09/19/2019 - 21:31 Portuguese
Poesia/Amor [Teus lábios] 0 4.975 08/15/2019 - 15:01 Portuguese
Poesia/Meditación [Á deriva] 0 5.469 05/08/2019 - 15:29 Portuguese
Poesia/Meditación [Vazios] 0 5.393 04/03/2019 - 21:00 Portuguese
Poesia/Meditación [Círculos] 0 5.970 03/12/2019 - 17:34 Portuguese
Poesia/Meditación [Mundo] 0 5.574 12/07/2018 - 20:47 Portuguese
Poesia/Meditación [Curtido] 0 6.632 11/26/2018 - 20:20 Portuguese
Poesia/Meditación [Caminhar] 0 3.623 11/21/2018 - 14:21 Portuguese
Críticas/Varios [A filosofia do povo] 0 8.588 10/30/2018 - 14:13 Portuguese
Poesia/Meditación [Morto] 0 7.381 10/25/2018 - 19:56 Portuguese