As duas versões de Halloween
Quando são feitas refilmagens de clássicos, os que assistiram à primeira versão, majoritariamente, dizem que preferem a mais antiga e Halloween, O início, refilmagem do clássico de 1978, com Jamie Lee Curtis e Donald Pleasance, não é exceção. Embora o filme tenha feito sucesso, não há dúvidas de que os fãs da série que imortalizou o assassino Michael Myers, preferem a primeira. Se compararmos as duas versões, veremos que a primeira é verdadeiramente superior, por motivos que serão devidamente analisados.
Em Halloween, O início, lançado em 2009, há uma tentativa de explicar como o menino Michael Myers se transformou no monstro que voltaria a Haddenfield atrás de Laurie Strode e, no seu caminho, mataria várias outras pessoas na noite do Dia das Bruxas. Neste filme, Michael Myers é um menino de uns dez anos, com ar esquizofrênico, cabelos bonitos como os de um anjo, que tem fixação por máscaras, mata animais e vive com uma família desajustada: a mãe é uma stripper, o padrasto é um bêbado desbocado que xinga o menino de homossexual e a irmã mais velha, Judith, é uma adolescente que vive a provocá-lo. Apenas a irmã mais nova, um bebê, está alheia a esse mundo anormal. Lentamente, Michael vai se desagregando interiormente, dando vazão à sua fúria e mostrando sinais de um comportamento violento. Apenas a mãe acredita que ele é uma criança inocente, mas verá que isso não é verdade na noite de Halloween quando Michael, cheio de ira, matar com requintes de crueldade a irmã mais velha que preferiu fazer sexo com o namorado a acompanhá-lo na noite em que as crianças pedem doces, o namorado da irmã e o padrasto.Apenas o bebê é poupado. No primeiro Halloween, ao contrário, não há nenhuma sugestão de que a família Myers fosse desajustada, o que deixa um mistério quanto ao fato que motivou Michael a matar a irmã e deixou uma sugestão de que o menino poderia, simplesmente, possuir uma natureza maléfica e assassina. Vale salientar que, enquanto, nesta versão, Michael tem dez anos, na primeira, ele tinha apenas seis, o que torna os acontecimentos piores.
Outros fatores diferenciais são que o dr. Samuel Loomis aparece desde antes da tragédia neste novo filme, tentando se aproximar de Michael dois anos antes da matança da família Myers, ao passo que, no antigo, ele aparece apenas quando Michael já está crescido, ficando subetendido que vem tratando dele apenas desde que o rapaz foi mandado ao manicômio por matar a irmã, além de, por motivos que não deixa claros e que só vamos entendendo ao longo do filme, não acredita que o rapaz seja insano, mas a própria encarnação do mal. Ele é tão prevenido contra o paciente que, enquanto se dirige para o hospital acompanhado de sua enfermeira, quer que ele vá ao juiz totalmente sedado. Por algum motivo, Samuel Loomis quer mantê-lo trancafiado, mas logo veremos que ele tinha mesmo bons motivos.
A versão de 2009 acabou prolongando demais a história ao acrescentar como Michael Myers teria se tornado o assassino mascarado, talvez na tentativa de torná-la mais verossímil. Entretanto, isso acabou por tirar a atmosfera de sugestão que torna a versão de 1978 mais misteriosa e enxuta. Ela apenas sugere que Michael é mau, independentemente da vida que tivesse tido com sua família. Nesta, fica claramente implícito que, se o menino tivesse crescido num lar saudável, ele não teria se desenvolvido como se desenvolveu, tornando-se a fera assassina que viria assombrar a pequena cidade na noite das Bruxas. E sabemos que nem todos os que crescem em lares desajustados irão se tornar assassinos cruéis. O dr. Samuel Loomis desta nova versão tenta estabelecer um relacionamento com Michael que, aos poucos, vai mergulhando na insanidade, cobrindo o rosto com máscaras e se revelando mais feroz, matando uma enfermeira enquanto ainda é uma criança e, anos mais tarde, vários funcionários do manicômio ao fugir. Malcolm Macdowell faz com competência seu dr. Loomis , mas,, o de Donald Pleasance, que, desde o começo, sabia que Michael era apenas a própria essência do mal e não um rapaz mentalmente doente, estando disposto a tudo para detê-lo, é muito melhor.
Outra falha do filme de 2009 é a caracterização da heroína, Laurie Strode. A de Jamie Lee Curtis é muito mais séria e responsável, o que nos faz simpatizar com ela desde o começo, torcendo para que chegue viva ao final, ao contrário de suas amigas, que só pensam em ficar com os namorados. A Laurie da nova versão é tão tola e sem consistência quanto suas amigas, ou seja, não se diferencia delas,não tem a personalidade de uma heroína. Além disso, em 1978, não se fala do bebê sobrevivente da chacina nem de que o bebê teria sido adotado pelos Strodie, o que nos faz pensar que Michael decidiu perseguir Laurie por acaso.
Enquanto Laurie tenta escapar do monstro, que não sabe que é seu irmão, vão sendo acrescentados detalhes desnecessários, que nos fazem achar que o diretor só quer adiar o final. Num deles, totalmente patético, o dr. Loomis tenta conversar com Michael, dizendo-lhe: "Falhei com você". Como um psiquiatra experiente, que sabe que o paciente é mau e não louco, vai tentar convencê-lo com diálogos? A falha é quase imperdoável.
Bem, o fim, em que Laurie e Michael caíram de uma casa e ela vai atirar na cabeça dele, é falho e inconclusivo, diferente do final aberto da primeira versão, na qual víamos rapidamente o rosto de Michael Myers e o dr. Loomis lhe dava seis tiros, salvando Laurie, que perguntava se ele era o bicho-papão e o doutor responde: "acho que sim." Depois, Michael some e o final fica aberto. Para onde ele terá ido? Ele será humano ou a encarnação do mal puro?
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