Hostil o tempo.

Hostil o tempo,
insistente vento,
soprando louco,
na pressa do mundo.
preto o túmulo,
e os coros do lamento
homem de luto,
hostil o tempo”

São de areia e sal
feitas as praias,
os cais
de pedra e cal e as ameias
dos castelos,
as lágrimas deste Portugal,
apenas água e pouco mais

E sinto
que não aconteço realmente
Como as fendas do corpo cujo e
Suspeito trago
Tatuado com ditos
de tantos e todos,

Arte não acontece,
contem-se-ou tem-se
ou não tem-se
dá-se…

Se vou morrer que seja a murar
em volta o mar que há ainda em
mim…
Se vou morrer quero de volta
as lágrimas que no mar
abandonei faz tempo…
Se vou morrer não lamento
ter o jeito
no coração dum mar
tormento

Sinto no meu ser
um doce imenso,
Que, de verdade não posso ver,
Pois o sal
não me dá descanso,
Apesar de,
longe do mar os olhos eu ter…

Caiu-me o olhar bem no meio do mar rasgado

Era manso e cálido, instável
Apesar do bafo leve e paciente, sem peso,

Um lugar onde nada de novo acontece
Além da cólera da espuma e do céu…

Deixai-me cair e molhar-me
Onde o amor nem habita
nem há-de habitar nada de meu…

não conto o tempo
porque ele pode parar
o meu pensamento
como um mar sem vento,
não conto o tempo
porque haveria de contar
tendo estrelas no tecto
e paredes de ar,
não conto o tempo
de vida pra me libertar
porque haveria ele de parar ?
se nem o mar sabe a vento
d’ encostar o ombro
um no outro,
não conto o tempo que vem
porque ele me tem
num estendal, bem preso
com molas de ar…

Por favor não tenham pena de mim, eu sou minoria entre muitos outros
mas sou e vou estar sempre no meio de minorias
…eu vou pra onde as vão minorias, sinto o que as minorias sentem…
se maioria em mim eu sou e o universo sorvo quando as mãos junto…

Tenho um penedo em lugar de peito
E talvez nada tenha em volta dele
Que não seja este nó-de-cego
De tanto medo

Se eu pudesse trancar a Terra toda
dentro de mim e me demorar
olhando-a dentro dest’peito
E sentir-lhe o paladar devorando-a
lentamente, devagar e depois
de rompante mas sem preconceitos
Seria mais feliz nesse instante …

Mas se eu nem quero ser feliz.
…preciso ser de vez em quando infeliz
e admirar a Terra e o encanto
Para poder reencarnar
assim num verde perfeito campo
em flor…

se soubesse que amanhã morria
calcava os pés nos livros que não li
e nas lembranças do que não vivi,nas utopias
dos outros que apodreceram antes de mim

se soubesse que amanhã morria
chorava a esperança que perdi
um pretenso dia, por aí..

Deus, que é feito de ti,
Se é que existes ou me ignoras,
Pois quando dou por mim,
Olhando o céu, sem estrelas,

Sinto um total desalento,

sorvi o vento…
sustive o tempo
dormi entretanto
no cárcere breve
do corpo…

Diz que entendes
O que se passa, entre mim
E o precipício
Sabendo-nos às vezes
Unidos por um fio-de-prumo
Como a noite e o final do dia

Diz-me porque pareço particípio
passado Tara perdida
Inércia sem-fim
mar morto
Diz que entendes
o dia meu
assim o sol posto..

Joel Matos (2012)

Submited by

Viernes, Febrero 23, 2018 - 16:39

Ministério da Poesia :

Su voto: Nada Promedio: 5 (1 vote)

Joel

Imagen de Joel
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 8 horas 13 mins
Integró: 12/20/2009
Posts:
Points: 42009

Comentarios

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

E sinto que não aconteço realmente

E sinto
que não aconteço realmente

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Joel

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Ministério da Poesia/General Com’um grito 0 2.497 11/24/2023 - 09:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General As palavras apaixonam-me 0 2.496 11/24/2023 - 09:06 Portuguese
Poesia/General A verdade por promessa 0 2.035 11/24/2023 - 09:03 Portuguese
Poesia/General “Falar é ter demasiada consideração pelos outros” 0 1.477 11/24/2023 - 09:01 Portuguese
Poesia/General Meu mar eu sou 14 3.561 09/26/2023 - 15:44 Portuguese
Ministério da Poesia/General (Não hei, porque não tento) 32 8.835 07/03/2023 - 10:38 Portuguese
Ministério da Poesia/General Maldade 58 3.871 04/27/2023 - 10:56 Portuguese
Ministério da Poesia/General Do que eu sofro 63 4.116 04/09/2023 - 20:15 Portuguese
Ministério da Poesia/General Doa a quem doa, o doer … 5 2.899 11/29/2022 - 21:42 Portuguese
Poesia/General “Mea Culpa” 5 2.945 11/29/2022 - 21:37 Portuguese
Ministério da Poesia/General “Hannibal ad Portus” 0 3.512 11/20/2022 - 19:56 Portuguese
Ministério da Poesia/General Do avesso 0 2.332 11/20/2022 - 19:50 Portuguese
Ministério da Poesia/General Eis a Glande 0 4.353 11/20/2022 - 19:48 Portuguese
Ministério da Poesia/General Incêndio é uma palavra galga 0 2.557 11/20/2022 - 19:47 Portuguese
Ministério da Poesia/General Restolho Ardido… 0 3.331 11/20/2022 - 19:45 Portuguese
Poesia/General Não entortem meu sorriso, 0 4.406 11/20/2022 - 19:16 Portuguese
Poesia/General Espírito de andante ... 37 8.352 05/26/2022 - 15:07 Portuguese
Poesia/General Feliz como poucos … 3 3.929 03/24/2022 - 12:15 Portuguese
Poesia/General Nada, fora o novo ... 17 2.451 03/19/2022 - 20:01 Portuguese
Poesia/General A tenaz negação do eu, 8 3.617 03/19/2022 - 19:58 Portuguese
Poesia/General Nunca tive facilidade de 29 23.267 03/11/2022 - 17:20 Portuguese
Poesia/General Tudo em mim, 13 8.981 02/25/2022 - 17:40 Portuguese
Poesia/General E eu deixei meus olhos 12 2.627 02/25/2022 - 17:40 Portuguese
Poesia/General Meu instinto é dado pelos dedos mindinhos 22 4.021 02/25/2022 - 17:39 Portuguese
Ministério da Poesia/General Sem nada … 17 3.980 02/19/2022 - 15:18 Portuguese