Permaneço mudo

Permaneço mudo, sereno e distante dum muro de
Medos, o ouvido tísico, meus olhos cegos
E o espírito chão, o Cã da idade das Trevas,
Pedra já velha, gasta, procuro auxílio, remédio,

Conforto, sinto minhas, as lágrimas da esfinge
Disfarçam a saudade das madrugadas, intactas
As manhãs, ao beijar na terra, a luz não
Da lua, das damas da noite, magras, emboscadas

Ou dos fantasmas da morte, silvando vagas,
Longas pegadas preces, velozes corcéis,
Vozes de ascetas magos, cavaleiros do
Apocalipse, é o fim do sempre, inquietante,

E eu permaneço mudo no pó, no caminho,
Como se obtivesse do céu a réplica de um hino,
Ao meu instinto, à minha imperfeição de ver,
Ouvir, pensar certo, nobre abdico do meu valor,

Renuncio de mim próprio, a vida não me convém,
Não contenho nas lágrimas o sal, os mares de veludo,
Nem a casta, que eu desejaria chorar, por esta
Imensa erma, extinta Terra, gasta rocha, penedos

Negros, negros cabelos, a Berenice dada aos
Deuses, sugerindo no ocaso, o fogo dos Gregos,
S. Telmo e a carícia das paisagens ardendo,
Longínquas, trémulas damas, belas e brancas,

Cal, de animal vestidas, cornos chifres, dançam,
Devolvem ao campo o sémen, o corpo, como pedindo
Expiação para o luto, perdão para tudo isto,
O ouvido tísico, os olhos cegos e o espírito mouco.

Joel Matos ( 01 Fevereiro 2021)

http://joel-matos.blogspot.com
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Sábado, Febrero 6, 2021 - 20:37

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