SEM ONDE NEM QUANDO
Temo o poder
da linguagem que amesquinha
o meu ser qualquer coisa senão morro.
Sou corpo amarrado
num sono desnorteado
ao colo de uma insónia intensa,
transformando-me desconhecido
como os mistérios por desmascarar
nas profundezas do oceano por explorar.
Sinto-me eclipse
nas palavras escritas na luz jusante
do meu caminho de sombras agrestes,
aliadas à agonia do meu sorriso perdido
numa ilha qualquer nas minhas visões insanas.
Arrasto-me fantasma
pelos pântanos de um anel de medo
no pânico do meu olhar enforcado nas vozes
dos meus Anjos da guarda salvos pelo meu choro.
Estrangulo o ar que respiro
vezes sem conta a contas com a solidão
no silêncio das bestas que profanam a sepultura
sem onde nem quando no meu cérebro paranóico.
Fecho os olhos
como quem salta de um abismo
neste escuro que me toca a alma de vazio
matando a cor dos corais que restam neste tormento.
Sou filho do tempo
delirando ao vento como um rochedo
desprezado à beira-mar para receber o infatigável
esmurraçar das ondas vivas nesta face esculpida de dor.
Estendo-me
num lençol de lágrimas,
seco meu sangue até que sucumba a tristeza
que estruma o meu solo e me lava do suor de ódio
que me suja a fé à mercê de uma mão que pede perdão.
Este seria o meu último poema
se o meu lema fosse morrer já neste deserto
de cactos que se lamentam na minha ferida do passado.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 645 reads
Add comment
other contents of Henrique
Tema | Título | Respuestas | Lecturas | Último envío | Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Pensamientos | DA POESIA | 1 | 8.784 | 05/26/2020 - 22:50 | Portuguese | |
Videos/Otros | Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. | 1 | 49.098 | 06/11/2019 - 08:39 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | TEUS OLHOS SÃO NADA | 1 | 7.667 | 03/06/2018 - 20:51 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO | 4 | 8.290 | 02/28/2018 - 16:42 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | APALPOS INTERMITENTES | 0 | 7.609 | 02/10/2015 - 21:50 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | AQUILO QUE O JUÍZO É | 0 | 7.440 | 02/03/2015 - 19:08 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | ISENTO DE AMAR | 0 | 7.557 | 02/02/2015 - 20:08 | Portuguese | |
Poesia/Amor | LUME MAIS DO QUE ACESO | 0 | 7.996 | 02/01/2015 - 21:51 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | PELO TEMPO | 0 | 6.455 | 01/31/2015 - 20:34 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DO AMOR | 0 | 6.228 | 01/30/2015 - 20:48 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DO SENTIMENTO | 0 | 6.038 | 01/29/2015 - 21:55 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DO PENSAMENTO | 0 | 7.274 | 01/29/2015 - 18:53 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DO SONHO | 0 | 5.261 | 01/29/2015 - 00:04 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DO SILÊNCIO | 0 | 6.557 | 01/28/2015 - 23:36 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DA CALMA | 0 | 5.938 | 01/28/2015 - 20:27 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | REPASTO DE ESQUECIMENTO | 0 | 5.086 | 01/27/2015 - 21:48 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE | 0 | 6.751 | 01/27/2015 - 15:59 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ | 0 | 6.293 | 01/26/2015 - 19:44 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO | 0 | 7.105 | 01/25/2015 - 21:36 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | MIGALHAS DE SAUDADE | 0 | 5.434 | 01/22/2015 - 21:32 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO | 0 | 5.831 | 01/21/2015 - 17:00 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | PALAVRAS À LUPA | 0 | 6.133 | 01/20/2015 - 18:38 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | MADRESSILVA | 0 | 4.887 | 01/19/2015 - 20:07 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | NA SOLIDÃO | 0 | 7.611 | 01/17/2015 - 22:32 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | LÁPIS DE SER | 0 | 6.989 | 01/16/2015 - 19:47 | Portuguese |
Comentarios
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Intenso, sufocante, derradeiro
Uma ferida do tempo, sem onde nem quando que cicatrize
Poderoso
Abraço
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Cheguei ao fim deste poema sem fôlego...inspirado e sublime numa força que marca a leitura...
Brilhante
Beijos
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Parabéns pelo belo poema.
Gostei.
Um abraço,
REF
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Poema contundente, tristeza profunda, um belo traçado.
Parabens.
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
LINDÍSSIMO POEMA, GOSTEI MUITO!
CHEGUEI ATÉ A TEMER, MAS QUANDO CHEGUEI A FIM FIQUEI FELIZ COM SUA DECISÃO!
Este seria o meu último poema
se o meu lema fosse morrer já neste deserto
de cactos que se lamentam na minha ferida do passado.
Meus parabéns,
MarneDulinski
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
DESTACO:
"Estendo-me
num lençol de lágrimas,
seco meu sangue até que sucumba a tristeza
que estruma o meu solo e me lava do suor de ódio
que me suja a fé à mercê de uma mão que pede perdão."
PROFUNDO
MT BOM
:-)
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Henrique,
Noite, insônia, passado, tormenta...um coquetel e tanto!! Ainda bem que é um poema onde expressas de forma metafórica toda esta agonia em tristeza sentida. Mas, que não seja o último, pois tua poesia não poderia morrer e do passado só nos resta aprender!
abraço