RATO SWINGER

Era uma vez uma história de muitas vezes, de muitas histórias.

Consegui fazer pela terceira vez um percurso inédito, inédito porque só o tinha feito duas vezes inéditas e nunca três.

Portugal pobre de gente rica em crise de não saber onde gastar o dinheiro, e num défice de onde pedir outro dinheiro.

Preparava-se para receber o Papa Rato Swinger, num país de papo para o ar.

Nesses preparativos um dia à noite, encontrei desencontrada uma amante antiga que nunca amei, tivemos uma longa conversa, na igreja batia meia-noite, na rua faltavam cinco minutos para daqui a bocado.

Falamos falando, falamos calados e quando nos demos conta das horas, já passava um minuto da meia-noite (vinte e quatro horas e um minuto depois).

Perguntou-me se eu ia ver o Papa Rato Swinger. Respondi-lhe em contramão que nem de Bentley com dezasseis choferes nem de Mini com álcool eu iria à congregação da pedofilia, nem mesmo que as vacas fumassem erva para tossirem.

Ela estava com cara de quem tinha o período atrasado, mas disse-me que ele não saiu na mesma paragem que ela e que mais tarde o apanhava.

Ela estava calmamente nervosa e obesa numa caixa de chocolates, mas disse-me que a partir de hoje só comeria doces a partir de amanhã.

Ela tossia pó, tinha flatulências barulhentas. Pediu desculpa pelo transtorno e que estava em obras interiores para recompor a sua vida na dos outros.

Recordamos nostalgicamente aqueles passeios de carro a pé, e do quanto o empurrávamos até à gasolineira mais próxima longe de tudo.

Lembramos tempos que nunca aconteceram, como a gripe A afinal foi um Z.

Avançamos parados em risos de dentes escondidos, ao lembrar as sandes de nevoeiro mistas com corrente de ar naquele bosque, onde passeavam as pessoas que tinha lixo para lá deixar. Sim, foram piqueniques românticos com coreografia de mosquitos com mais fome que nós.

Depois foi embora, embora não quisesse ir.

Disse-me boa noite e que dormisse com Deus. Respondi-lhe que não sou gay.

Então dorme com os anjos, disse-me ela. Respondi-lhe que sou monógamo e orgias nunca me cativaram.

Já em passo de ida, disse-me que dormisse com a Virgem Maria. Acenei com um não e respondi-lhe que já tinha namorada, que não era traidor nem dormia com a mulher de outro.

Continuei no meu percurso inédito, sozinho a ler um jornal que o vento trouxe de uma casa de banho improvisada atrás de uma árvore que sonhava ser uma mesa de jantar numa casa abandonada. Ri-me três dias sem me conter à noite com a notícia da primeira página “Petição para trasladar o santuário de Fátima para os terrenos da expo98 em dois mil e carqueja!

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Domingo, Mayo 2, 2010 - 17:48

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Henrique

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Comentarios

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Re: RATO SWINGER

Brilhante Henrique. Um texto mordaz!

Adorei. :-)

beijo,
Clarisse

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Re: RATO SWINGER

Fiquei surpreendido, e quando me surpreendem desta forma positiva é deveras cativante!

Fantástico

Avançamos parados em risos de dentes escondidos, ao lembrar as sandes de nevoeiro mistas com corrente de ar naquele bosque, onde passeavam as pessoas que tinha lixo para lá deixar. Sim, foram piqueniques românticos com coreografia de mosquitos com mais fome que nós.

Que venha a próxima comédia. Está está 5 estrelas :-)

rainbowsky

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Re: RATO SWINGER

Brilhante Henrique...Brilhante!!

Favoritos

Abraço
Nuno

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Re: RATO SWINGER

Rato Swinger, para além de gostar do nome, seu conteúdo me pôs a sorrir com seu humor brilhante, para além duma historia bem contada.
Estou surpreendido, pensei que o Henrique era aquele rapaz certinho, andando sempre na linha, mas últimamente tem se aproximado mais da minha maneira de ler.
Continua Henrique gostei da tua sátira para além dum texto
brilhante. 5 estrêlas.

Abraço.
Vitor.

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Re: RATO SWINGER

Brilhante sarcasticamente divertido, roçando o humor negro... Inteligente, escondendo quase a vista de todos, nas entrelinhas q são tb elas linhas legiveis, muita verdade dura e crua...

"Disse-me boa noite e que dormisse com Deus. Respondi-lhe que não sou gay.

Então dorme com os anjos, disse-me ela. Respondi-lhe que sou monógamo e orgias nunca me cativaram."

Não resisti a transcrever esta parte...
Beijinho grande em ti, Henrimarte com os pés tão na terra...
Inês

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