O principio do fim...
Já não caibo em mim...
Os contornos foram todos forçados,
os limites foram ultrapassados
por fronteiras patéticas
q me encurtaram o chão de manobra...
Saltam-me torneiras frenéticas dos olhos,
em desgarradas de agua fria e agua quente
sempre salgada...
E a garganta tem um ancinho q se arrasta devagarinho
a cultivar silabas mordidas
semeadas por um agricultor cruel
q mastiga a terra em vez de a amar...
Caminho sobre pregos para a frente e para trás
e nenhuma dor me faz feliz,
apesar de precisar da dor para me saber viva...
Quando já não doer
estarei ao colo de um anjo qualquer
q me beijará as nódoas negras
e as mãos ensanguentadas...
Porque me viraram as costas os anjos?
Afago-lhes as asas q de penas nada têm,
são arames farpados de desprezo
q me rasgam os olhos até escorrer
toda a cor da terra q albergam...
Antes o amor acariciava-me com as mãos
e beijava-me carnudo e fogoso...
Agora só esta morte andrajante
que me caminha nos seios...
Porque não me verga de uma vez,
nem a morte me faz sua amante
e eu jurei-lhe fidelidade eterna...
Sabe-me a sangue, o gosto,
num coagulado sombrio de cicatriz...
Maquilho-me de rosto feliz e saio p'ra rua
de garrotes nos braços,
cada dedo é uma lamina,
cada cabelo archote em chamas,
toda a gente se afasta,
como sempre se afastaram as gentes...
Basta de amar impotentes...
Já não caibo em mim,
nunca soube caber em alguém,
mas cá dentro,
houve um tempo em q coube um mundo inteiro...
Inês Dunas
Libris Scripta Est
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1127 reads
Add comment
other contents of Librisscriptaest
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Meditación | Caixa de chocolates... | 6 | 669 | 01/09/2010 - 11:08 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Passaros feridos... | 3 | 921 | 01/09/2010 - 04:45 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | O pecado da gula... | 8 | 539 | 01/08/2010 - 12:14 | Portuguese | |
Poesia/Amor | A indolência da tua ausencia... | 8 | 791 | 01/08/2010 - 11:54 | Portuguese | |
Poesia/Alegria | Ampulheta! | 10 | 1.032 | 01/08/2010 - 11:38 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | A mulher ampulheta e o ponteiro magoado... | 6 | 640 | 01/08/2010 - 11:19 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Quadros de dedos mel! | 4 | 924 | 01/07/2010 - 21:26 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Painel de azulejos... | 6 | 876 | 01/07/2010 - 21:23 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Eu valso, tu valsas? | 5 | 791 | 01/07/2010 - 21:19 | Portuguese | |
Prosas/Pensamientos | 12 passas, 12 desejos... | 1 | 859 | 01/02/2010 - 01:16 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | Não mata, mas doi... | 5 | 646 | 12/30/2009 - 04:24 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Mais velhos q os trapos... | 5 | 1.012 | 12/30/2009 - 04:18 | Portuguese | |
Poesia/Amor | A herança de Shakespeare... | 4 | 836 | 12/27/2009 - 21:18 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Reflexão | 2 | 1.123 | 12/27/2009 - 18:43 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Chuva... | 5 | 1.293 | 12/26/2009 - 17:10 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | La rosa negra... | 4 | 1.143 | 12/26/2009 - 17:08 | Portuguese | |
Prosas/Otros | As princesas nem sempre podem sonhar... | 1 | 1.172 | 12/23/2009 - 22:53 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Prazer... | 4 | 1.070 | 12/23/2009 - 21:47 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Foi ontem... | 6 | 800 | 12/22/2009 - 13:47 | Portuguese | |
Prosas/Pensamientos | O que queremos, sem dar... | 1 | 1.021 | 12/19/2009 - 16:13 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Há vida em todos os planetas... | 3 | 790 | 12/18/2009 - 18:36 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Porque o amor não basta... | 5 | 929 | 12/18/2009 - 02:57 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | O beijo é... | 3 | 865 | 12/18/2009 - 01:31 | Portuguese | |
Prosas/Pensamientos | O silêncio é de ouro? | 2 | 969 | 12/17/2009 - 22:28 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | O gosto acre da conquista... | 4 | 889 | 12/16/2009 - 21:50 | Portuguese |
Comentarios
Re: O principio do fim...
Inês, achei este poema tão sentido e tão profundamente triste... que me comoveu de uma forma única!
Um beijinho, meu anjo!
Carla
Re: O principio do fim...
Um poema doloroso, e por isso ainda mais belo, em que se consegue sentir toda a amargura. Comovente. Abraços
Re: O principio do fim...
Uma inundação de lágrimas contidas, nos limites do corpo ultrapassad.
Tanto mar, tanto sal em teus olhos escondidos.
Saltam-me torneiras frenéticas dos olhos,
em desgarradas de agua fria e agua quente
sempre salgada
O poder de stravassar numa folha de papel, um sentimento e defende-lo, ( sublime o andar em pregos), com essa veia da auto análise em ti.
Querida amiga, sorri que o sol chegou e encara o que há-de vir.
Porque algo bom sempre surgirá e redefinirás as fronteiras da tua dor
Gostei bastante
Um beijo
Re: O principio do fim...
Inês,
fiquei sem muitas palavras de tão triste, ao mesmo tempo tão belo e por muito me dizer.
Iria sublinhar várias partes do poema, digo, teria mesmo que sublinha-lo por inteiro, logo
Favoritos*
Beijo
Nuno