MEA CULPA
Viver-me
é um medonho quanto,
um desmaio do chão ao céu espanto.
Ausência é o que não fiz.
Sentir-me
é um quesito
mesquinho de tempo,
mea culpa de Satanás amnistiado.
Ruído é o que não disse.
O caminho do ser
medra aos pés noivados
de pão e vinho à boca das covas.
Rés vezes
de pedra soletrada
em luar de proa sem barco,
parco estar este não sei onde ser.
Saudade é a distância que não pisei.
Padece a fantasia
no covil dos cornos
que se abaixam açoite
na cicatriz de folhas em branco.
Solidão é os risos que não dei.
Adormece a noite
cantada de acontecer,
o dia folga na maré da alma
onde o corpo fica esquecido além por ir.
Atlântidas por descobrir
são Midas no meu dormir.
Sono é o que não amei.
Idas sem volta,
diabos à solta na frieza dos lábios,
desertos sábios ensinam a palavra infinito.
Acendo ascender à morte.
Ventos pavios,
violinos navios a navegar o norte.
Sabedoria é o que não sei.
Sobram sombras
no berço da voz quando o silêncio
é um rio parado na viuvez das margens.
Amores são viagens pela imortalidade.
Tropelia é o que não decidi.
O sol é um sapato
que trago calçado para sonhar.
Acordar é uma pedrinha
que me descalça dos sonhos.
Eu é quem não conheço.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1822 reads
Add comment
other contents of Henrique
Tema | Título | Respuestas | Lecturas | Último envío | Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Pensamientos | DA POESIA | 1 | 9.219 | 05/26/2020 - 22:50 | Portuguese | |
Videos/Otros | Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. | 1 | 50.787 | 06/11/2019 - 08:39 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | TEUS OLHOS SÃO NADA | 1 | 8.389 | 03/06/2018 - 20:51 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO | 4 | 9.576 | 02/28/2018 - 16:42 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | APALPOS INTERMITENTES | 0 | 8.330 | 02/10/2015 - 21:50 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | AQUILO QUE O JUÍZO É | 0 | 8.288 | 02/03/2015 - 19:08 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | ISENTO DE AMAR | 0 | 8.242 | 02/02/2015 - 20:08 | Portuguese | |
Poesia/Amor | LUME MAIS DO QUE ACESO | 0 | 8.746 | 02/01/2015 - 21:51 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | PELO TEMPO | 0 | 7.020 | 01/31/2015 - 20:34 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DO AMOR | 0 | 6.910 | 01/30/2015 - 20:48 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DO SENTIMENTO | 0 | 6.630 | 01/29/2015 - 21:55 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DO PENSAMENTO | 0 | 8.034 | 01/29/2015 - 18:53 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DO SONHO | 0 | 6.092 | 01/29/2015 - 00:04 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DO SILÊNCIO | 0 | 7.122 | 01/28/2015 - 23:36 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | DA CALMA | 0 | 6.283 | 01/28/2015 - 20:27 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | REPASTO DE ESQUECIMENTO | 0 | 5.636 | 01/27/2015 - 21:48 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE | 0 | 7.710 | 01/27/2015 - 15:59 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ | 0 | 6.986 | 01/26/2015 - 19:44 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO | 0 | 7.554 | 01/25/2015 - 21:36 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | MIGALHAS DE SAUDADE | 0 | 6.727 | 01/22/2015 - 21:32 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO | 0 | 6.391 | 01/21/2015 - 17:00 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | PALAVRAS À LUPA | 0 | 6.499 | 01/20/2015 - 18:38 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | MADRESSILVA | 0 | 5.423 | 01/19/2015 - 20:07 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | NA SOLIDÃO | 0 | 8.545 | 01/17/2015 - 22:32 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | LÁPIS DE SER | 0 | 7.990 | 01/16/2015 - 19:47 | Portuguese |
Comentarios
Re: MEA CULPA
"Viver-me
é um medonho quanto,
(...)"
E quanto é medonho viver ascendendo a morrer, quando as tropelias dos sonhos são hipérboles apendicites que rasuram os sapatos do sol.
"Eu é quem não conheço", mas conheço o que agora diz aqui, o efémero trago que engole o mundo e o devolve deformado.
Gostei do poema
:-)
Re: MEA CULPA
henrique,
Destaque:"Acordar é uma pedrinha
que me descalça dos sonho" uma verdade.
Obrigada pelo texto que li e bebi com prazer
Abraço