ABRENÚNCIO

Cavo sepulturas
ao cadáver do passado
nesta mímica multidão de palavras.

Dói tanto
o ruído de flores caídas
sobre a face dos vultos no meu rasto.

Esconjuro-me pedra de ângulos mortos.

Arranco alma fora
olhando de voz baixinha
a muralha de atalhos nos andaimes do relógio.

Ferventes
restos de tempo moribundo
me desvaira pela abóbada dos sonhos.

Serão serões as trevas
à mercê das perdas honradas de saudade.

Ergo da luz
retratos de infinito
que arrimo aos braços
compassos refilados às costas.

Rogo raivas
de corpo assentado
nos umbrais da utopia.

Entro pela garganta pálida do luar.

Enchumaço
de inferno as estrelas
entesouradas nas pálpebras
moribundas do jejum do desejo.

Atónico abrenúncio
me desaba excomungado
no semblante do silêncio que me liberta.

Grito-me incerteza
que tosquia as tábuas do caixão
onde guardo o sofrimento coberto de escadas.

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Viernes, Agosto 27, 2010 - 00:30

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Henrique

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Re: ABRENÚNCIO

"Dói tanto
o ruído de flores caídas
sobre a face dos vultos no meu rasto.

Esconjuro-me pedra de ângulos mortos.

Arranco alma fora
olhando de voz baixinha
a muralha de atalhos nos andaimes do relógio."

Gostei sobretudo do impacto visual conseguido nesta parte, onde o misticismo se aligeira num sentir que nos permite divagar entre o soturno de nós mesmo...
Beijinho grande em ti, Henrimarte!
Inês

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