Poema III
Poema III
Não quero ser poeta de um mundo míope
De um mundo que pega o vapor antes da hora
Cadê as asas da aurora.
Não quero ser um esquartejador de mulheres
Por que com um pedaço de Marília e com um pedaço de Joana
Eu não construirei Colombina.
Não quero ser um poeta esquizofrênico
Por que a vida é bela demais para se esquecer dela
Nas asas de fatigadas retinas.
Não quero tomar absinto como todo mundo toma
Quero tomar dozes de loucura
E sair atirando pedras na lua.
Não quero sair correndo na faixa de pedestres quando o sinal abre
Estou velho demais e seria uma aventura
Sair correndo.
Não quero ser conduzido por este mundo feroz
Preciso jogar a grande âncora
E me atracar no cais.
Não quero andar nos ladrilhos escorregadios do shopping
As horas andam tão depressa na minha paranóia
E o que me sobra são passos de caramujo.
Não quero obedecer ao órgão repressor
As mangas da árvore são tão belas
E seria uma vergonha não comê-las.
Não quero falar de guerras
Pois já seria uma guerra falar de guerras
E não chegaríamos a um consenso.
Eu quero gritar bem alto
Quero que me levem para o manicômio
No manicômio só há normais.
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