Futuro no Presente V

Abri o olhos e comecei a observar as minhas coisas, elas permaneciam iguais apesar de parecerem-me diferentes, era uma sensação estranha, não quis mexer em nada apesar de achar que estava a precisar de gastar algum tempo a fazer uma arrumação, apetecia-me falar com alguém, tinha necessidade de partilhar essa experiência com mais pessoas mas ao mesmo tempo não me sentia seguro o suficiente para falar sobre isso com qualquer um, aquelas questões sobre o que eu acreditava ou não e sobre o preço das decisões pesavam-me muito, resolvi ir tomar um café, na verdade era um truque para mim próprio, sempre que me sentava numa esplanada era como dar uma pausa a mim mesmo, sai de casa e caminhava lentamente, acompanhava-me sempre aquela sensação que as coisas apesar de estarem iguais estavam diferentes, sentei-me sozinho pedi o meu café quando vejo o Ivo a vir em minha direcção, fiquei contente em o ver e o convidei para sentar em minha mesa, ele vinha com um livro debaixo do braço que despertou-me a curiosidade, então perguntei-lhe:

- É sobre o que o que andas a ler?
- É sobre a não existência de coincidências.
- Estas a gostar?
- Até agora está bem fundamentado.
- Bem, então pelo que te conheço estas a gostar.
- Pelo menos até agora, só espero que não me decepcione depois.
- Fala-me mais sobre o livro.
- Basicamente ao longo do livro vai provando de varias maneiras que as coincidências não existem.
- E não passa disso?
- Até agora não e não julgo que irá passar.
- E acreditas em coincidências?
- Neste momento nem acredito nem deixo de acreditar.
- Como assim?
- É simples, antes de começar a ler este livro acreditava em coincidências, então este titulo despertou-me a curiosidade, não o comprei a primeira vista, sabes que não sou impulsivo, pesquisei sobre o autor para averiguar o sua credibilidade, mostrou-se credível o que aumentou a minha vontade de ler, só que para ler eu não poderia vir com uma ideia pré-concebida sobre o assunto, a minha ideia antes de ler é que haviam coincidências mas pode ser que essa ideia se altere, admito então a hipótese de mudar de ideia, então no período que admito mudar não é possível crer ao mesmo tempo, seria no mínimo um acto de falsidade ideológica comigo mesmo, se por outro lado eu começasse a ler o livro com a minha ideia pré-concebida e não estivesse aberto a possibilidade de a mudar seria uma pura perca de tempo ler o livro a não ser que estivesse interessado em destruir os argumentos aqui dispostos.
- Entendo, eu não acredito em coincidências.
- Porque?
- Sinceramente estou um pouco cansado, não estou com muita vontade de argumentar.
- Mas já pensaste nas consequências de pensares assim.
- Se tu soubesses o que já passou pela minha cabeça hoje não me pedias para pensar, acho que tenho o cérebro cozido.
- Então não penses, como se isso fosse possível para ti.

Riu-se
Calei-me, sorri-lhe e disse.

- Tens razão, não é possível, ando aqui as voltas de um assunto.
- Qual?
- Viagens no tempo.
- Vais de túnel, corda ou metes-te num buraco negro?
- Achas possível?
- Acho, mas se fores nada de matar o teu avô.
- Estas a gozar comigo?
- Não, é que se matares o teu avô não nasces mas como não nasces não chegas a matar o teu avô logo nasces e viajas no tempo e matas o teu avô, entendes?
- Tem sentido mas no final nasceria ou não.
- Nascerias mas provavelmente não conseguirias matar o teu avô, pelo menos é o que a física diz em uma das suas teorias.
- Existem varias teorias?
- Que eu conheça só mais uma e é acerca de universos paralelos.
- E se eu dissesse que já viajei no tempo.
- Agora estas tu a brincar comigo.
- Não.
- Já pensaste em consultar um psiquiatra ou um psicólogo.
- Já, mas admite a hipótese, ou imagina que é verdade o que eu te disse.
- Bem Pedro, como eu sei que não estas ligado a nenhum estudo multinacional só poderia pensar duas coisas, ou que enlouqueceste ou que não foste tu que viajaste.
- Como assim?
- Acredito que um dia as pessoas conseguirão viajar no tempo, então no futuro alguém contacta com o passado em que o actual pressente é o passado para esse alguém.
- Então segundo a tua visão seria o futuro que viria ao passado.
- Não consigo conceber uma tecnologia actual capaz de fazer essa viagem.
- E porque teria que ser uma tecnologia sofisticada?
- Então como seria?
- Meditação.
- Estou a te entender, não acredito nisso.
- Pois, mas eu acredito, mas estou a pensar uma coisa, não preciso viajar para o futuro para entrar em contacto com o futuro.
- Como assim?
- Tão simples como um telefone, não precisas viajar para perto da pessoa para conseguir estar em contacto com ela.
- Então vamos voltar ao início, acreditas que entraste em contacto com o futuro, mesmo sendo fantástico demais para mim é mais plausível do que viajares no tempo.
- Exacto.
- E não tens nenhum aparelho, fazes isso com base na meditação.
- Sim.
- E queres que eu acredite nisso?
- Sinceramente para mim é indiferente se acreditas ou não mas gostava de falar sobre isso, eu não acredito em coincidências, sai de casa com uma sensação estranha e vim tomar um café para relaxar, apareceste-me pela frente, deve ser por algum motivo.
- Sabes que sou um céptico por natureza, não consigo acreditar naquilo que não me provem e se quiseres a minha opinião sincera acho que podes estar a passar o limiar da sanidade.

Fiquei sem palavras por uns segundos, essa era uma hipótese que eu não poderia descartar.

- Bem, sei que não vale a pena continuar a falar sobre isso contigo.
- Não é bem assim, mas se bem que te lembras já te vi doente, não gostava de ver-te outra vez.
- Mas estou a tomar todos os cuidados que posso.
- Acredito que sim.
- Ando realmente a pensar muito sobre isso e isso tem-me consumido um pouco.
- Mas quanto a isso não há solução para ti, sempre que resolves colocar uma ideia na cabeça não te dás descanso.
- Só uma pergunta.
- Diz.
- Seria plausível pensar que a informação poderia viajar no tempo?
- Se a informação viajar a uma velocidade superior a da luz.
- É possível?
- Actualmente não, e a maior parte da classe cientifica acredita que é uma barreira intransponível.
- Mas é plausível a transmissão de luz no vácuo a velocidade da luz, certo?
- Sim, é o que ocorre.
- Essa luz pode enviar um código qualquer, como código morse por exemplo.
- Pode.
- Mas o que aconteceria se essa informação encontra-se um receptor que estivesse em movimento oposto.
- Estática provavelmente, não adianta de nada.
- Talvez não, posso ter uma acumulação de informação para ser descodificada, corrige-me se eu estiver enganado, eu o planeta terra e o sistema solar estão em movimento.
- Sim, e tudo é uma questão de referencial, a terra roda em torno do seu próprio eixo, e em volta do sol, mas onde queres chegar?
- Se alguém me enviasse uma informação a velocidade da luz, coisa que é plausível e eu estivesse ao mesmo tempo em movimento com uma velocidade qualquer no sentido inverso a velocidade resultante seria superior a da luz.
- Tem sentido, é como duas bicicletas a se cruzarem numa rua, uma vai a velocidade de 10 km/h em relação a quem esta parado e a outra vai a mesma velocidade, mas elas se aproximam uma relativamente a outra a 20 km/h, mas o problema continuaria a ser descodificar essa informação, pelo que dizes não tens nenhuma espécie de modem, se tivesses, bem a história seria outra, podias estar constantemente a armazenar essa informação mesmo que viesse a uma velocidade extremamente elevada e ela ia sendo descodificada, ao mesmo tempo enviavas informação, ela era transformada num código feito de luz que era descodificado do outro lado, quero dizer… em outro tempo.
- Então segundo essa visão o único problema era a codificação e descodificação das mensagens.
- Não pois também há o efeito gira discos.
- Que efeito é esse.
- A alguns anos atrás e usávamos discos musicais em vinil, esses discos estavam preparados para trabalhar a um certo numero de rotações por minuto, se acelerássemos a rotação ouviríamos a mesma musica mais rápido, mas se acelerássemos demais os sons se misturariam.
- Bem isso tudo então é uma questão de velocidade.
- Basicamente pensa-se que sim.
- Mas o que implicaria esse efeito gira discos.
- A informação chegaria a uma velocidade tão elevada que estaria distorcida, basicamente, como já disse receberias apenas estática.
- Não consigo então encontrar uma maneira de explicar como faço essa ligação de maneira que entendas.
- Não acreditas em coincidências, certo?
- Certo, mas porque perguntas?
- Por causa do que eu estou a ler.
- Ah… desculpa-me, estou tão concentrado nisto que esqueci-me de ti.
- Não faz mal, diz-me uma coisa, se as coincidências não existem porque encontramo-nos agora?
- As pessoas que estão na mesma frequência energética se atraem, da mesma maneira que as pessoas que gostam do mesmo tipo de musica, dos mesmos desportos etc. na verdade somos um ser que esta constantemente a enviar ondas, como se fossem ondas de rádio e ao mesmo tempo que emitimos também recebemos, as vezes sintonizamos com alguém, as vezes alguém se sintoniza connosco, acontece na maioria dos casos sem nossa influência directa mas também pode acontecer conscientemente.
- Acreditas nisso com base em quê?
- Bem neste momento acabou de haver uma distorção, levantaste o teu senso crítico, o que aconteceu? É como se estivesses sintonizado numa rádio, por alguns segundos o som para e tu avalias se gostas da rádio ou não, nesse momento tens duas opções ou continuas a ouvir a rádio ou mudas de estação, a pergunta que me fizeste era como se pudesses falar com o programador de rádio, e perguntasses a ele porque ele colocou a musica anterior e depois com base na resposta dele escolherias mudar ou não de estação, o problema que a resposta dele podia ser algo tão simples como – Por gostar dessa musica – essa resposta não ajudava-te em nada, continuas com o mesmo problema, se gostas da programação continuas a ouvir se não gostas mudas, então estares ligado aquela rádio esta ligado ao facto de teres gostos semelhantes ao programador, todas as pessoas que optam conscientemente ou inconscientemente por estarem sintonizados naquela rádio naquela hora tem gostos semelhantes independentemente do porque, é claro que se estivesses a gostar da musica nem te preocuparias em perguntar ao locutor do rádio porque ele a pôs, na verdade estas a querer interferir na programação dele, é como neste momento que me fizeste esta pergunta, não concordas com o que eu disse por isso me obrigas a defender o meu ponto de vista, eu poderia não ter consciência disso, agiria então na defensiva usando meus argumentos mais ou menos complexos, neste momento tu poderias aumentar ou diminuir a distorção na comunicação, se estivesses a construir argumentos para destruir os meus enquanto me ouvias, a comunicação começaria a ser mais difícil e a estaríamos a sintonias cada vez mais distintas.
- Com isso não respondeste a minha pergunta.
- Estas a ver, eu falei-te sobre uma serie de coisas e a única coisa que tentaste ouvir foi uma resposta directa a pergunta que fizeste.
- Era o que eu esperava.
- Mas nem sempre se obtém a resposta que se espera da pergunta que se faz, se fosse assim não haveria necessidade sequer de fazer a pergunta, mas como vejo que não queres ou não sabes como entrar em sintonia vou fazer o contrário, tu distorceste, ou seja passaste a vibrar de uma maneira diferente da minha, então vou tentar sintonizar a tua frequência, mas mesmo assim talvez a minha resposta não te seja útil, baseio-me no que sei através de varias fontes.
- Lá isso tens razão, não me serve de muito.
- Claro que não, é uma questão de credibilidade, se não me considerares credível não aceitaras o que eu tenho para te dizer, é a tua natureza, da mesma maneira que precisaste de verificar a credibilidade do autor do livro que estas a ler.
- Sou céptico, sabes disso.
- Não és só céptico, alem disso precisas conseguir compreender um fenómeno para o aceitar como verdadeiro, se fosses apenas céptico seria muito mais simples para ti.
- Não estou a te perceber.
- Vou te dar um exemplo com esse livro que andas a ler, se fosses apenas céptico não o precisarias de o ler, verias na livraria que tratava de provar que as coincidências não existem, ao verificar que o autor era credível aceitavas a informação.
- E é mal precisar de a compreender?
- Não é mal, mas também não deve ser castrativo, imagina que só quem compreendesse como é que os aviões voam é que andassem de avião.
- Muita gente não andava de avião.
- Depois a o problema da quantidade de informação disponível, qualquer assunto que escolhas existe uma infinidade de informação, se não fores aceitando a informação nunca chegarás a conclusão nenhuma.
- Mas não posso aceitar qualquer informação.
- Pois não tens que a seleccionar vendo qual é credível e qual não é, mas não estas a entender o que eu quero dizer, uma coisa é saber utilizar uma ferramenta, para saber a utilizar não precisas de entendê-la, nem saber de que ela é feita, precisas acreditar que ela funciona, podes acreditar apenas com base nas tuas experiências e ou relatos de outras pessoas, podes ser ensinado a utilizar a ferramenta, como se ensinam as pessoas a conduzir automóveis nas escolas de condução, não necessitas saber como o automóvel funciona.
- Acho que estou a te entender.
- Estamos aqui nos dois, neste fim de tarde a tomar um café e a torrar os miolos, estou a ficar cada vez mais cansado.
- Descontrai-te um pouco, andas sempre muito concentrado em alguma coisa.
- Preciso tomar umas decisões sobre a minha vida.
- E por isso andas por ai a viajar no tempo.
- Sim, já acreditas?
- Não, mas pouco importa, eu não acreditar em ti não significa que tu não estejas certo.
- Tens piada.
- Mas acho que devias descontrair um pouco, vamos beber um copo mais tarde?
- Pode ser, depois do jantar, o que achas?
- Ok, eu logo lhe ligo.

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Viernes, Abril 23, 2010 - 16:08

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Re: Futuro no Presente V

Lindo!! Uma vez mais agradou-me imenso.
Como te disse no ultimo e-mail, eu acredito nos dois lados, na ciencia e no Deus. Por isso acho que um fisico jamais deveria usar o nome Deus nas suas argumentaçãoes. Mas muitos, infelizmente acabam por faze-lo quando a linguagem começa a escassear. Por tal, para mim, o nosso problema é sempre linguistico.
Há uma frase de um texto meu em que cheguei mesmo a escrever que " Os fisicos vivem nas latrinas das igrejas."
Isto porque tinha lido mais uma afirmação de um outro qualquer fisico que disse" O acaso é a assinatura de Deus quando este não quer assinar". Fica-lhes mal usar o nome Deus.(isso cabe aos teologos),a difrença entre os teologos e os fisicos é a maneira como fazem a pergunta. Os teologos perguntam :Porquê? Os Fisicos: Como?. Até já se tratam uns aos outros como " os rapazinhos do outro lado da rua". Quanto a viajar
no tempo tempo, eu tb acredito na teoria dos buracos negros mas como deves saber deram um nome ao lugar, sitio, muito "perto" de um buraco negro (pelo menos a salvo de sermos sugados) que o homem nunca conseguiu passar, chama-se muro de Plank, e assim foi baptizado pq foi um tal de Plank que o descobriu.
Ainda quanto aos acasos nestes triliões de parsecs (medida astronomica para milhões de anos luz),que o Universo se estende, acho muito "acaso" que se o planeta terra estivesse um bocadinho mais perto do Sol (parsecmente) falando, nós não existiriamos, ou se estivesse um bocadinho afastado (parsecmente falando novamente),nós não existiriamos idem. O que me levou a escrever:" A vida acontece nos efémeros milhões de anos entre o muito quente e o muito frio. Uma repentina brisa primaveril. Cosmologica e Cronologicamente falando". Ainda bem que apareceste Veiga. Fazia falta neste site alguém que de noite olhe para o céu e não veja só um tapete preto com pontos brancos: (mais um wallpaper do windows). E não achei minimamente decepcionante o teu texto. Pelo contrário. Cada vez está melhor.Continua. Fico à espera do proximo. Palmadinhas no Cortex.Um Abraço, Carlos Cabecinha.

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