A terrível dúvida das aparências (W. Whitman)

Da terrível dúvida das aparências,

da incerteza afinal de que possamos estar iludidos,

de que talvez a confiança e a esperança não sejam afinal senão especulações,

de que talvez a identidade para além do túmulo seja apenas uma linda fábula,

de que talvez as coisas que observo, os animais, plantas, homens, colinas, águas brilhantes a fluir,

o céu do dia e da noite, cores, densidades, formas, talvez tudo seja (como sem dúvida é) apenas aparições,

e a coisa real ainda esteja por conhecer

(quão frequentemente se desligam de si mesmas como se para me confundir e zombar de mim!

quão frequentemente penso que não sei nem homem nenhum sabe nada a respeito delas),

talvez me parecendo aquilo que são (como sem dúvida parecem) no meu presente ponto de vista

e podendo revelar-se depois (como naturalmente poderiam) como não sendo nada daquilo que parecem,

ou nada enfim, a partir de pontos de vista totalmente diferentes;

para mim essas e outras questões semelhantes são de algum modo respondidas pelos meus queridos amigos,

quando aqueles que eu amo viajam comigo ou se sentam segurando longamente minha mão,

quando o ar sutil, o impalpável, o sentido que as palavras e a razão não detêm, nos cercam e nos perpassam,

então me sinto invadir por uma sabedoria indizível, inaudita, e fico em silêncio, e não me falta mais nada,

não posso resolver a questão das aparências ou a da identidade para além do túmulo,

mas caminho ou me sento, indiferente, e estou satisfeito;

ele, a segurar minha mão, me satisfez completamente.


Walt Whitman (1819-1892), poeta, ensaísta e humanista norte-americano, considerado o pai do verso livre.

Poeta ficou mundialmente conhecido pelas citações no Filme: Sociedade dos Poetas Mortos.

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Domingo, Enero 9, 2011 - 08:59

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A terrível dúvida das aparências

"...para mim essas e outras questões semelhantes são de algum modo respondidas pelos meus queridos amigos,

quando aqueles que eu amo viajam comigo ou se sentam segurando longamente minha mão,

quando o ar sutil, o impalpável, o sentido que as palavras e a razão não detêm, nos cercam e nos perpassam,

então me sinto invadir por uma sabedoria indizível, inaudita, e fico em silêncio, e não me falta mais nada",

Mais um poeta do grande humanista Whitman, que inspirou o filme Sociedade dos Poetas Mortos, confira.

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