O SILÊNCIO DE QUEM CHORA

O silêncio de quem chora

é a boca de uma piton predadora

que nos esmaga a alma sem clemência.

 

É como quem dedilha

um piano de pernas pró ar

de mãos atadas atrás das costas

sobre teclas desassossegadas.

 

É uma hipotermia

de lágrimas gélidas emudecendo

paisagens distorcidas por mágoas elefantes.

 

Chorar é caminhar

sobre pontes de cordas podres

num penhasco de vertigens suicidas.

 

É sermos relógio parado entre margens

apegadas por um arco-íris a preto e branco.

 

O silêncio de quem chora é uma coruja

desencantando-nos ao ouvido sentires de desgraça.

 

Gargalha-nos sofrimento,

empoleirado em ramos de Outono

na árvore da noite num açoite de queixumes asfixiados.

 

Chorar é uma falta de ar imensa

onde o silêncio é um remoinho de gritos,

vindos em vento frio sem sabermos bem de onde.

 

É um diabo

que nos morde a língua

com palavras em Braille

neste inferno onde o fogo é solidão.

 

O silêncio de quem chora

é uma sinfonia de dor e perda.

 

É um violino

de saudade desafinada

que nos horripila os sentidos.

 

É uma âncora de amor

Que nos fundeia os lábios em poesia gótica.

 

Chorar é um trono

em alto mar de onde nada se avista

a não ser horizontes de névoas alucinogénicas.

 

O silêncio de quem chora

é um tela de cores abstractas

sobre papelão ensopado de vazio.

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Miércoles, Enero 19, 2011 - 23:53

Poesia :

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Henrique

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Comentarios

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Profunda poesia...

Profunda poesia...

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O silêncio de quem chora

"É uma hipotermia

de lágrimas gélidas emudecendo

paisagens distorcidas por mágoas elefantes."

Designa de uma forma esparsa os silêncios; de quem chora; talves para levantar a voz que morre nas goelas.

( É uma ancora de amor"

É dor que se exprime nas essências que esmigalham os sonetos.

Gostei do que o meu amigo consegue dizer como, suponho:  

Já não são pratos, mas presentes oferecidos aos estetas que somos obrigados a ser.

Gostei de te ler bem profunda é a forma como vejo.

Abraço.

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