Zero Horas

Tenho, na minha garganta, um segredo por te gritar
Que me queima por dentro e me faz acreditar:
No dia em que souber que o meu mundo acabou
Vou soprar-te esta verdade e perguntar-te quem eu sou.

Na madrugada em que, por um acaso, nos encontramos à beira rio, soube nos teus olhos que tinhas o mesmo segredo.

Entre passos de fantasma e restolhar de alucinação,
Pergunto-me se me segues enquanto corro na escuridão.
Se és a droga que me inebria e o dedo do destino,
Prende-te à minha loucura e corre no desatino...

... comigo. Seremos loucos e sozinhos.

Passos acelerados: daqui à morte, uma pulsação!
Elevemo-nos na noite e façamo-nos turbilhão.
Beija-me, agora que morro, antes que te tenha tempo de te soprar
A verdade de que sou feita e antes que te possa perguntar...

...Quem sou eu?

Deitámo-nos lado a lado e existimos, ao mesmo tempo, no coração do mundo. Fomos a Meia-Noite do dia seguinte que nunca nasceu.

Somos o mesmo, tu e eu.
A linha do horizonte.
Céu e Mar que se tocam.
Somos o arrepio gelado numa madrugada de Verão.
O último sonho da manhã.
O silêncio da cidade na hora de ponta.
Somos os anos.
O bater do coração de um morto.
O estagnar das horas.
Somos o cigarro que nunca se acende.
O preto.
O branco.
Somos cinzento.
A memória.
Eternos e efémeros.

Somos para sempre até ao momento em que para sempre paramos de ser.
E acalmamos o grito. E abraçamos o nada.

E fomos.

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Domingo, Agosto 24, 2008 - 20:00

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Comentarios

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Re: Zero Horas

Um poema com arte, razão e sentimento!!!

:-)

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Re: Zero Horas

Que poder!
Muito belo!
"Somos para sempre até ao momento em que para sempre paramos de ser."
Dos melhores versos que tenho lido...
Bjs

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Re: Zero Horas

Muito obrigada ;)

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