A TELA DE SARAMAGO

A TELA DE SARAMAGO

Carvão Gótico

Tinha uma tela de Saramago
por mim pintada
Nobre porte
Suspendida no pórtico
Desejada e desenhada
A traço amor
A carvão gótico

Eu encontrava-me quieta
Secretamente pensando
Na tristeza e dor da partida
Repousando no meu quarto
Mas deitada
A minha mente
de inquieta que estava
Não descansava
Pensei na Tela
Lembrava se seria ou não justo ali tê-la

Se seria ou não abuso da minha parte
Ter o rosto de Saramago,
ali suspenso, como busto
Na minha humilde galeria de arte


AMOR Maior…AMOR Mulher

Mas aquela tela
Ainda imperfeita e inacabada
Por todos já era motivo de simpatia
Tela secreta e indiscreta
De tanto que a contemplavam

Várias vezes dei por mim a questionar
O destino mais justo a dar-lhe
Pois não sabia se o Nobel
Comigo se ofenderia

Ou ao contrário simplesmente
Ficaria enobrecido e comovido
com meu humilde gesto
de reconhecimento e afecto

Ao pensar na minha tela
Sequer imaginava
que conseguiria desfazer-me assim
fácil e de repente
daquele retrato esboçado por mim
expressão de um amor sem fim
laço de platónico sonho
e de amor utópico
retrato ilustre e altivo
de um grande amor vermelho vivo.

Pois aquela tela não era uma tela qualquer

era rosto de homem 

e reflexo de um amor maior
do meu amor-mulher


A MÁSCARA

A tela escondia
como máscara
Era um amor encoberto
e incompleto
e que um dia
de súbita paixão virou desgosto.

Mas o que me mantinha
Fortemente ligada àquela tela rosto?

Embutida em vidro
Era um laço tão forte
Não esquecido
Amor que por meses
Me deixou perdida,
sem Norte e abrigo
Uma grande paixão
Que não acolheu a despedida
E que por luto tempo
Me deixou despida.

TELA suspensa
… suspense….!

O Nobel partiu
E o meu amor
Por certo
também se dividiu
pois tal laço
tela da qual não me desfaço
estava sempre
na minha mente presente.

Sequer houve um beijo, um abraço de adeus
Apenas aquela tela tez que a timidez
Lhe dei de presente
Rosto de rugas expressão,
sequer terminada
colorida
e menos ainda retocada
Gruta que grita
Rochosa
E chorosa
Peso do tempo
Da sapiência e experiência de escritor
De muitos sentimentos confusos
Lamentos e murmúrios
Tela suspense suspendida
De um amor interrompido
imiscuído de dor
de uma paixão dividida
entre a amizade e o amor.


NOBEL rosto…LUZ

Num traço fino e impreciso
fino porte
inacabado
ainda assim por todos admirado
a moldura que o protegia era pobre
Nobel rosto protegido em vidro tosco
Debruado não a ouro mas a cobre
Não preciosamente embutido a cristal puro
Brilhava, de igual forma, mesmo no escuro
Preenchendo de luz a fachada da minha entrada
Iluminando todos os dias
A minha chegada
anunciando a despedida de um amor
vivido à porta fechada.

E tu parecias estar sempre ali…à minha frente

Cada traço fino
Daquele sapiente rosto
Tinha sido desenhado na perfeição
E com gosto
Cuidando fielmente cada feição
De protótipo escritor
Ainda que pelas mãos inexperientes
De aspirante a pintor
E de poeta amador.

Foi com muita dor
Que vi um grande amor partir
E com igual ardor e emoção
Senti esvair-se, em cinzas, o Nobel
E afogado, em lágrimas, o meu coração.


ECOS do Silêncio

Vencida pelo cansaço
De um pensamento, tormento
Irrequieto
Pisava o primeiro sono
Quando …de repente …um profundo silêncio
invadiu a minha morada num eco

E estridente ruído
Despertando atordoada
Na minha casa que parecia
Assombrada.

E dei por mim…fora de mim
Dentro de uma cena de suspense
em tela de cinema…enfim…

A medo levantei-me
E, pé ante pé, pena pegada pluma
Dirigi-me
Ao encontro de recoito estrondo
ungido da penumbra


Cacos caídos

Dei então
Com a tela em vidro embutida
Caída no chão, em estilhaços dispersos
estendida

Cada caco de vidro
Era uma espécie
De peça de puzzle incompleto
E era impossível reconstituir (crime)

Mas o retrato
Com laço forte contacto
Mantinha-se intacto

Do chão recolhi
Os cacos de vidro
do amor que sem ter…perdi


Juízo Final

Ainda aturdida e trémula
Com o que me parecia ser
Afinal
Juízo final
Aviso…sinal
Resposta à minha indecisão

Foi então
Que aquele ruído linguajar
Que me foi dirigido ao coração
De certa forma me chamou à razão


Tela
DOR…aDORmecida
Cinderela


Não havia nenhum motivo
Ou perigo aparente naquela tela inocente
E menos, qualquer mal, havia em ali tê-la

Pois o perigo não estava no retrato
nem em ali suspenso tê-lo
Mas no facto de ao vê-lo
Acender o perigo
da chama
E em manter
Atrás daquele retrato
Secreto amor escondido

Dizem que normalmente
As almas inquietas
Nos surpreendem com pistas
E sinais da sua presença

Não seria então
Um chamado de atenção?
Um apelo à consciência?
Talvez …afinal
Urgente necessidade
de pôr um ponto final
Num amor não resolvido
escrito em reticências

Paixão não vencida, amor intenso
Num rasto de pistas…incenso
Amor no tempo suspenso

naquela tela

Propenso a eterna dor … aDORmecida...

CINDERELA

 

Magda Graça

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Domingo, Mayo 15, 2011 - 20:17

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Magda Graça

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Não sou de muitas palavras.

Não sou de muitas palavras. Mas digo que o que acabei de ler é fantástico.

Beijo.

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