Agasalho das falas pelo ar nocturno


Lágrimas com perfume de ilusões entornadas
sobre o ventre da sombra. Descalça.

Ceara de corpos em beijo tosco. Odor profano.
Manhã das palavras distorcidas. Reboliço de poesia,
desejos rendilhados de lua cheia.

Sol de quem vê longe o pranto,
rebates de talvez em desespero. Doçura morta.
Instante sórdido. Colinas de regressos sem de onde.

Cálices vazios. Espancados.
Agasalho das falas pelo ar nocturno.
Areias somadas nas entrelinhas da pele.
Olhos de amor. Escombros de água decomposta.

Luar difuso num galho de Outono. Triste.
Espaço infinito. Caudal de escrita que não existe.
Vergastada de solidão em papel esticado até mais não.

Tumulto apogeu. Ânsia rolada exausta nos olhos.
Travos de saudade. Mortuário silêncio.

Ritmo de marfim incerto. Infame.
Aguarela em desmaio de nada sei. Insone.
Verbo insípido no vento que se esvai. Insano.
Mão desenhada em velório no eixo da escuridão. Ida.

Escravo verso oculto na maresia.
Perfume que dorme num palácio feito de lábios sós.
Flor tornada mar, casulo eterno aos ombros do poeta.
Sirvo o choro à alga perdida nas pedras do que eu era.

Ruma à voz a seiva irrequieta
dos pátios da minha alma, escarpa viva.
Outeiros onde a morte treme as suas preces.
Derrocado regato, sentidos de quem nada sente.
Procura desmedida, alagada de ânforas cavernosas.

Caminho cego. Luz em labareda de sede
onde albergo a distância num poema. Retalhada.
Imperfeito. Invento o tempo por onde a noite foge.

 

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Lunes, Mayo 16, 2011 - 00:16

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Henrique

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