A despedida da morte (Alberto Costa e Silva)

Falo de mim porque bem sei que a vida

lava o meu rosto com o suor dos outros,

que também sou, pois sou tudo o que posto

 

ao meu redor se cala, e é pedra, ou, água,

cicia apenas —O teu tempo é a trava

que te impede de ter a calma clara

 

do chão de lajes que o sol recobre,

este esperar por tudo que não corre,

nem pára e nem se apressa, e é só estado,

 

e nem sequer murmura:—O que te trazem

é o riso e o lamento, o ser amado

e o roçar cada dia a tua morte,

 

que não repõe em ti o, sem passado,

ficar no teu escuro, pois herdaste

e legas um sussurro, um som de passos,

 

uma sombra, um olhar sobre a paisagem,

memória, cálcio, húmus, eis que o mundo

nada rejeita, sendo pobre e triste

no esplendor que nos dá. A madrugada.

 

Alberto Costa e Silva, poeta.

 

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Martes, Mayo 17, 2011 - 21:04

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