O ninho exposto (Robert Frost)

Estavas sempre a achar algum novo brinquedo.

Assim, quando te vi lá no campo, de joelhos,

mãos no chão, a bulir com o feno já cortado,

tentando – é o que supus – repô-lo em seu lugar,

fui então te ensinar como é que se fazia,

se era a tua intenção, firmando-o contra a brisa,

ou, a um pedido teu, fingir que te ajudava,

para vê-lo de novo enraizar e crescer.

 

Mas não estavas a brincar naquele dia,

e não te preocupava a grama, muito embora

tivesses uma mão cheia de brotos murchos,

de capim cintilante e raízes de trevos.

 

Era um ninho, no chão, cheio de filhotinhos

que a lâmina, ao passar, por pouco não ceifara

(por milagre ninguém havia se ferido),

mas expusera, inerme, ao sol e à claridade.

 

Querias devolvê-lo àquele seu direito

de ter alguma coisa interposta entre si

e a visão do amplo mundo, houvesse uma maneira.

 

Ao modo como a cada vez que nos mexíamos

todo o ninho reagia, assim como à chegada

de uma mamãe que demorou para voltar,

me perguntei se a mãe de fato tornaria

depois que a cena toda havia se alterado

e se o arranjo não fora assustá-la ainda mais.

 

Não dava, entanto, para esperar e assistir.

Havia grande risco em fazermos o bem,

mas impossível foi sonegar o melhor,

não obstante o perigo; e o anteparo findamos

que havias começado, e a sombra devolvemos

que lhes fora tirada. – Era o que nos cumpria.

 

Por que então não há mais nada que relatar?

Passamos a outra coisa. E não tenho lembrança

de haver tornado lá – por acaso te lembras? –,

isto é, de retornar e ver se os passarinhos

haviam resistido a uma primeira noite,

para aprender a usar as suas próprias asas.

 

Robert Frost, poeta inglês, tradução de Renato Suttana.

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Domingo, Mayo 29, 2011 - 12:49

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