CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

ANTICRISTO

Grande obra de Lars von Trier, o seu monumento para a história do cinema, tem o trauma no seu cerne. Neste filme, o trauma aparece ligado àquilo a que podemos chamar a pergunta fundamental, a pergunta para qual nunca se consegue achar formulação, aquela que mais inquieta e que mais se esquece, aquela que raro está presente como tal.
Essa pergunta diz respeito ao medo? Diz. Mas medo de quê? Medo de nada. Nem sequer medo da morte. Medo por se estar à mercê de tudo? Sim, é a condição humana.
Como formular isso, no que diz respeito a este filme? Por um lado, só se pode trair a Natureza de onde vimos, por outro lado, trazemos igualmente a Natureza connosco, mas como uma doença, como uma vontade colossal, uma voracidade que necessita de ser satisfeita. Este dilema concentra-se todo no corpo e espírito de uma mulher, e é igualmente deste dilema vivo que provém o acaso traumático da sua história, cujo motivo imediato, ou emblema, é apresentado no início.
A câmara lenta torna o líquido sólido e torna o sólido gasoso, é um procedimento cinematográfico ambíguo, tanto pode petrificar como pode dissolver. Com a imagem em câmara lenta, uma mulher (Charlotte Gainsbourg) e um homem (Willem Dafoe) fazem amor completamente entregues à violência do desejo, debaixo do chuveiro, em cima da mesa, em cima da máquina de lavar roupa, derrubando tudo à volta. Com a câmara lenta, a água do chuveiro, a água de uma garrafa que é derrubada, cai espessamente, as gotas têm volume e peso. Estas imagens são montadas em paralelo com as imagens, também em câmara lenta, de um bebé que acorda e que sai da sua cama a caminho da janela, atraído pela neve que cai, como uma névoa. Ao contrário do que faz com a água, a câmara lenta torna a neve ainda mais leve, quase como se fosse um ar. A criança atira-se da janela enquanto os corpos dos seus pais são atravessados pelo orgasmo, presos nele. Eis o emblema do filme e o motivo imediato do trauma nesta história.
E o casal vai para a casa de madeira no meio da floresta densíssima, verdíssima. Vai para o interior de uma Natureza que parece conter uma potência afogada, sempre pronta a libertar algo de si. Porque há a questão homem/mulher para resolver, a questão mítica da atracção e da aniquilação do homem e da mulher, o filme prossegue, extremando a figuração dos actos e das visões das personagens, contrastando-os com a beleza desmedida e nervosa da Natureza.
O filme aborda tudo isto na raiz. À sua medida, vai directamente ao osso. É assustador como o são as representações das tentações de Jeronimus Bosh ou como as representações bíblicas de Rembrandt. Por exemplo.
O filme tem somente dois actores, Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe, que evoluem numa fecunda correspondência. Charlotte Gainsbourg entregou-se ao papel da mulher que carrega o trauma, da mulher que está sujeita a todas as experimentações, a mediadora, a passagem da Natureza, o representante e o objecto da pergunta fundamental acima mencionada. Quando estamos perante uma interpretação destas, um trabalho de gigante feito pelo mais frágil dos seres, o actor, um trabalho que faz de Charlotte Gainsbourg uma das maiores actrizes vivas, a única resposta admissível só pode ser a da veneração.

Recomendo vivamente este filme, nota máxima!

Submited by

segunda-feira, fevereiro 22, 2010 - 13:37

Críticas :

No votes yet

Henrique

imagem de Henrique
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 9 anos 43 semanas
Membro desde: 03/07/2008
Conteúdos:
Pontos: 34815

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Henrique

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia/Meditação LADOS POR TODO O LADO … 0 2.517 02/02/2013 - 21:23 Português
Videos/Música Ecos da Cave - Desejo 0 3.760 02/01/2013 - 00:30 Português
Poesia/Tristeza PERTO DE NADA … 0 1.189 01/31/2013 - 23:32 Português
Poesia/Meditação DAR CORDA À HORA DE SER … 0 911 01/30/2013 - 00:03 Português
Poesia/Amizade CORRE COMIGO … 0 1.006 01/28/2013 - 22:04 Português
Videos/Música Pink Floyd - Another Brick In The Wall 0 3.282 01/27/2013 - 04:21 Português
Poesia/Intervenção BOA VIAGEM ATÉ BEM-VINDOS … 0 1.292 01/27/2013 - 04:02 Português
Fotos/Artes Eu Quero Beijos, Muitos Beijos ... 0 3.182 01/26/2013 - 20:57 Português
Poesia/Meditação AUTOESTRADA DE VENTOS … 0 866 01/26/2013 - 20:18 Português
Poesia/Aforismo UM PROFISSIONAL QUE NÃO SONHE, CONTINUA AMADOR... 1 1.061 01/26/2013 - 02:33 Português
Poesia/Tristeza A NOITE AVELOU EM ESCURIDÃO FUNDA … 0 3.615 01/26/2013 - 00:33 Português
Poesia/Meditação NÓS NA SOLIDÃO … 2 966 01/25/2013 - 11:38 Português
Poesia/Meditação SAUDADE … 0 2.166 01/23/2013 - 23:52 Português
Poesia/Meditação DE INFINITO-A-INFINITO ORA A HORA … 1 1.644 01/21/2013 - 15:50 Português
Poesia/Tristeza OLHOS FRIOS FERVEM NO MEU OLHAR … 2 950 01/20/2013 - 16:54 Português
Poesia/Aforismo O AMOR AMA-SE ... 0 2.322 01/20/2013 - 15:43 Português
Poesia/Dedicado OLÁ MÃE … 1 1.215 01/19/2013 - 15:00 Português
Poesia/Gótico SOMBRA E SANGUE … 0 1.955 01/18/2013 - 01:15 Português
Poesia/Meditação COMPARSA DO TEMPO … 0 1.375 01/17/2013 - 01:08 Português
Poesia/Meditação ARRANHÕES DE AMOR … 0 1.183 01/15/2013 - 22:50 Português
Poesia/Amizade POIS ELA QUE ACORDE !!! 0 1.478 01/13/2013 - 19:40 Português
Poesia/Aforismo A BONDADE TEM A MANIA QUE É BOA ... 0 1.500 01/13/2013 - 13:39 Português
Poesia/Tristeza MORTE E MEIA … 1 1.096 01/13/2013 - 02:28 Português
Poesia/Meditação ISCOS DE SIM E NÃO … 0 1.551 01/08/2013 - 22:49 Português
Poesia/Meditação POEIRA DE PANCAS … 0 1.490 01/07/2013 - 21:57 Português