CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Adeus!

Adeus!, para sempre adeus!,
Vai-te, oh!, vai-te, que nesta hora
Sinto a justiça dos Céus
Esmagar-me a alma que chora.
Choro porque não te amei,
Choro o amor que me tiveste;
O que eu perco, bem no sei,
Mas tu... tu nada perdeste:
Que este mau coração meu
Nos secretos escaninhos
Tem venenos tão daninhos
Que o seu poder só sei eu.

Oh!, vai... para sempre adeus!
Vai, que há justiça nos Céus.
Sinto gerar na peçonha
Do ulcerado coração
Essa víbora medonha
Que por seu fatal condão
Há-de rasgá-lo ao nascer:
Há-de, sim, serás vingada,
E o meu castigo há-de ser
Ciúme de ver-te amada,
Remorso de te perder.

Vai-te, oh!, vai-te, longe, embora,
Que sou eu capaz agora
De te amar - Ai!, se eu te amasse!
Vê se no árido pragal
Deste peito se ateasse
De amor o incêndio fatal!
Mais negro e feio no Inferno
Não chameja o fogo eterno.

Que sim? Que antes isso? – Ai, triste!
Não sabes o que pediste.
Não te bastou suportar
o cepo-rei; impaciente
Tu ousas a deus tentar
Pedindo-lhe o rei-serpente!

E cuidas amar-me ainda?
Enganas-te: é morta, é finda,
Dissipada é a ilusão.
Do meigo azul de teus olhos
Tanta lágrima verteste,
Tanto esse orvalho celeste
Derramado o viste em vão
Nesta seara de abrolhos,
Que a fonte secou. Agora
Amarás... sim, hás-de amar,
Amar deves... Muito embora...
Oh!, mas noutro hás-de sonhar
Os sonhos de oiro encantados
Que o mundo chamou amores.

E eu réprobo... eu se o verei?
Se em meus olhos encovados
Der a luz de teus ardores...
Se com ela cegarei?
Se o nada dessas mentiras
Me entrar pelo vão da vida...
Se, ao ver que feliz deliras,
Também eu sonhar ...Perdida,
Perdida serás - perdida.

Oh!, vai-te, vai, longe, embora!
Que te lembre sempre e agora
Que não te amei nunca... ai!, não:
E que pude a sangue-frio,
Covarde, infame, vilão,
Gozar-te – mentir sem brio,
Sem alma, sem dó, sem pejo,
Cometendo em cada beijo
Um crime... Ai!, triste, não chores,
Não chores, anjo do Céu,
Que o desonrado sou eu.

Perdoar-me, tu?... Não mereço.
A imundo cerdo voraz
Essas pérolas de preço
Não as deites: é capaz
De as desprezar na torpeza
De sua bruta natureza.
Irada, te há-de admirar,
Despeitosa, respeitar,
Mas indulgente... Oh!, o perdão
É perdido no vilão,
Que de ti há-de zombar.

Vai, vai... para sempre adeus!
Para sempre aos olhos meus
Sumido seja o clarão
De tua divina estrela.
Faltam-me olhos e razão
Para a ver, para entendê-la:
Alta está no firmamento
De mais, e de mais é bela
Para o baixo pensamento
Com que em má hora a fitei;
Falso e vil o encantamento
Com que a luz lhe fascinei.
Que volte a sua beleza
Do azul do céu à pureza,
E que a mim me deixe aqui
Nas trevas em que nasci,
Trevas negras, densas, feias,
Como é negro este aleijão
Donde me vem sangue às veias,
Este que foi coração,
Este que amar-te não sabe
Porque é só terra - e não cabe
Nele uma ideia dos Céus ...
Oh!, vai, vai; deixa-me adeus!

Submited by

sábado, abril 11, 2009 - 17:15

Poesia Consagrada :

No votes yet

AlmeidaGarrett

imagem de AlmeidaGarrett
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 14 anos 17 semanas
Membro desde: 04/11/2009
Conteúdos:
Pontos: 279

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of AlmeidaGarrett

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Fotos/ - Almeida Garrett 0 1.731 11/23/2010 - 23:37 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XLVII 0 919 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XLVIII 0 865 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XLIX 0 1.153 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXXV 0 1.098 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXXVI 0 919 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXXVII 0 1.470 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXXIX 0 1.030 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XL 0 1.068 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XLI 0 1.072 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XLII 0 1.040 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XLIII 0 862 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XLIV 0 823 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XLV 0 1.256 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XLVI 0 888 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXV 0 872 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXVI 0 866 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXVII 0 1.273 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXVIII 0 1.046 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXIX 0 980 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXX 0 1.065 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXXI 0 1.019 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXXII 0 1.043 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXXIII 0 943 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Viagens na Minha Terra - XXXIV 0 988 11/19/2010 - 15:52 Português