ALEGORIA DA GEISHA

Há um não sei quê
De mistério preso
naquele olhar que espelho
jaz (em) mim
Calcorreando passeios de calcário
Em labirintos de sombras
E em muros de memórias
Ladrilhos que contam histórias
aos quadradinhos em azulejo
Há um não sei quê
naquele olhar
Que leio mas não vejo

Há jasmim
Há um não sei quê
De cheiro a incenso
Que escorre pálido
numa gota a gemer lágrima de desgosto
Rasgando um rosto carregado
Por um passado de memórias
ao sol posto

Há um não sei quê
Que não consigo apagar naquele olhar
Uma mágoa de água turva
De uma menina que cedo
Foi forçada a um fado
Na penumbra do pecado
Karma em cama de nuvem

Lençóis de cinza-chuva
dama que cega se entrega menina e nua

Há um não sei quê
Que não sei explicar
Naquele olhar inebriado
semi-lua
Uma lágrima ácida de gota de uva
Lambida no pecado
Que cai cabisbaixa
Mas que ainda assim seduz
E retida na retina
De uma menina mulher
Há uma cruz em cada esquina
que não a deixa
Um olhar fatal
que reluz oriental
na pálpebra da penumbra
de ser Geisha

Há um não sei quê naquele olhar
Que agora já sei explicar
Há um eclipse na idade
Na liberdade de ser menina

Há saudade…

… suspensa no semblante
Do sorriso do sim a nascente do não
Há um olhar penetrante
que hiberna filosofia

E na aGonia
Na Gruta de ser Geisha
Sem alegria no olhar
Há de Platão,
uma caverna de aleGoria

(De Alek para Lara)

 Magda Graça
(2011/01/21)