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O Gatuno - Brilho

Eu era grande,
Mas tinha medo,
Medo de ficar pequeno,
Medo de ser preso,

Aqui não houve rei que perdurou,
Alguns se enforcaram, outros foram degolados,
Aqui a única lei é a sua e a minha,
Cada gato com a sua espinha,

Seus olhos podem continuar me observando,
Pois um dia poderemos acabar lutando,
Veremos quem é o mais digno,
Sobre o calor do cabo da espada,

Aço com Aço,
Faíscas correndo ao longo de cada abraço,
Mortais e vertiginosos golpes num trajeto tortuoso,
Do homem franzino e do forte disputando o osso,

Mas hoje sinto muito,
Não é a sua vez,
E a minha vez de contradizer,
é a minha sede pelo seu ser,

Deixais de existir,
Partiste para minhas terras,
Onde poderá ser meu escravo,
De muitos anos servindo aleijado,

Os pássaros se puseram a cantar,
Canções para meus feitos glorificar,
O triunfo entre outros iguais,
Onde sobrevive quem rouba mais,

Pelas trevas eu andava,
No silêncio saqueava,
Na confusão habitava,
E as pessoas corriam assustadas,

Sou esguio e magro,
Conforme exige meu trabalho,
Sou silencioso e veloz,
Como um rato no lixo de um humano feroz,

Manejo meu punhal como a uma espada,
Corto qualquer coisa pelo caminho,
Guardo - o sobre grossas camadas de linho,
Me defendo apenas com minhas garras,

Tu há de dizer que sou apenas mais um criminoso,
Se deleitando da fraqueza, riqueza e ilusões como se fosse delicioso,
Mas poderá se divertir com alguns acontecimentos,
Um dia abandonados na minha memória, ao desalento,

Não julgue serem más minhas ações,
Ao menos sou nobre para muitos corações,
Depois de tanta coisa ter sido roubada,
Não há o que roubar para o meu tédio ser espantado,

Era noite e fazia muito frio,
Mais do que ficar equilibrado acima do meio fio,
As pessoas guardavam seus casacos,
E eu saia pra tomar algum trago,

Eu me julgava inteligente e racional,
Cheio de vivência e cultura descomunais,
Um sábio monge comandando os demais,
Roubando e bebendo como os intelectuais,

Não uso uniforme,
Heróis combatem o crime com uniforme,
Vilões esperam para serem esmagados com uniforme,
Eu não sou vilão nem sou herói, não sou digno de meus feitos se tornarem atemporais,

Se minha escrita as vezes quebra a rima,
Não mudarei meu jeito e avise os demais,
A arte não é constante e previsível,
A sua imprevisibilidade a torna destediosa e cabível,

Voltando, nesta noite eu descobri não ser invisível,
Carrego o talho até hoje na borda do meu rosto terrível,
Mesmo tendo olhos azuis brilhosos e marcantes,
Me mantenho sobre a pele de um pobre viajante,

Como a vida não é feita só de flores,
Acabo tendo que suportar as suas dores,
A grana já estava acabando,
A noite estava apenas começando,

Vi o brilhar em uma casa qualquer,
Segui o brilho como sigo o perfume de uma mulher,
Por ruas estreitas cheirando fortemente a esgoto,
Pelas linhas retas e tortas, exigindo maior esforço,

Ao se aproximar, o muro se punha a crescer,
Cada vez menos real, a barreira se tornava surreal,
Mas não pense que eu desisti perante isso,
Para qualquer coisa dá-se um jeito mesmo que seja ilícito,

No meu caso, isto é natural,
O brilho das estrelas e a lua tinham um aspecto angelical,
Banhavam minha face e me enchiam de um sentimento repentino,
A adrenalina me instigava um alerta vespertino,

Finalmente, transpus o muro com dificuldade,
Senti o peso da minha quase avançada idade,
Mas percebi que já passaram por aqui antes,
Um buraco estava aberto do outro lado por mãos grandes,

O brilho ficava cada vez maior,
Tinha de arranjar algum jeito para enxergá-lo melhor,
Observei tudo ao meu redor,
Mas só havia o meu fedor,

Depois de algumas voltas examinando a casa,
O silêncio era absoluto, cedia apenas para o ranger de uma escada,
Uma parede de flores se estendia por uma parte,
Camuflada mas aparentemente bem presa, realmente uma obra de arte,

A janela aberta se situava logo acima,
Implorando a minha presença e esperando com aparente alegria,
O brilho era muito fortemente refletido,
Chegava a ofuscar como aço sendo derretido,

É hora de informar sobre meu psicológico,
Não é nada emocionante mas bem contraditório,
Muito conturbada foi a minha vida,
Muito triste, sem muita alegria,

Nasci em uma família pobre e vingativa,
Meu pai batia nos filhos,
Matou toda sua família e depois se suicidou,
Eu corri enquanto a arma atirou,

Tudo se acumulou durante o passar de tempo,
Minhas horas na rua acompanhado com o descaso,
Largado para o destino, implorando ao acaso,
Sem ter de quem se vingar, sem se sentir vingado,

As dificuldades me tornaram o que eu sou,
Com começo imprevisível e a impossibilidade de saber certamente como tudo me deixou,
Resolvi lutar contra tudo e contra todos,
Viver no conforto da noite, buscar sustendo roubando seu conforto,

E com o brilho da lua afogado por nuvens,
Pude ver claramente do que se tratava,
Um espelho virado, meu nome clamava,
Enquanto o perfume de mulher realmente se concretizava,

Apinhei-me ao muro alternado de flores e estacas,
Subi com silêncio, habilidade e velocidade adaptados durante minha vida de pessoa fraca,
A janela jazia meio aberta,
Espiei pois parecia emboscada na certa,

Entrei no quarto mas não havia ninguém,
Roubei jóias, quebrei espelhos mas de repente alguém apareceu,
O causo estava pronto, podia ser morto ali mesmo,
Eis que surge uma moça gritando a esmo,

Tentei me aproveitar,
Mas ela escondia uma lâmina só a esperar,
Eu me equivocar e tentar me aproximar,
Eu me equivoquei e ela acabou por meu rosto talhar,

E como um gato assustado,
Fugi amedrontado,
Com o rabo entre as pernas,
E gritando blasfêmias,

Como vêem, não sou nenhum vilão,
Muito menos um herói salvando a nação,
Sou só um nobre cidadão,
Buscando vingança de onde tiro a minha inspiração.

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quinta-feira, junho 30, 2011 - 03:14

Ministério da Poesia :

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Alexi162

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