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Sem Coleira

O cão sem dono
Saia na hora do sono
Tentando encontrar
O seu devido lugar
Em algum jardim.

Quase no fim
Pensou consigo:
Quero um amigo
Que seja verdadeiro,
Buscarei no mundo inteiro!

Traiçoeiros caminhos
Percorridos, sozinho
Ele os enfrentou.
Num deles, parou.
Olhou para trás.

Pensou: Não dá mais!
Tanto faz, como tanto fez,
Talvez não fosse a vez,
Não via onde parar.
O que vou alcançar?

I

Já quase a desitir,
A força a esvair,
Viu-se, então,
Numa coleira com brasão,
Que friamente dizia:

"Acabou a folia!"

Palavras estranhas.
Olhou as montanhas,
Não podia alcançá-las.
Agora, carregava malas.

"Cala-te agora,
Cão sem senhora,
Sou eu o seu patrão,
Guarde o meu coração,
É o mais puro e frágil!"

E o cão, muito ágil,
Partiu para a labuta.
Mulher ou puta,
Ela agora o domava.
E ele gostava.

Estava, novamente,
Feliz e sorridente.
Agora havia alguém
Que queria-lhe bem...
Foi o que pensou.

O destino chegou,
Ele pôs-se em guarda,
Levantou a cauda
E latiu bem, não latente,
Contra o perigo iminente.

Contente pelo trabalho -
Era bom quebra galho -,
Viu-se capaz de ajudar.
Mas, pôde julgar,
Não fora valorizado.

Sentiu-se cansado
E parou por curiosidade,
Pensando ter liberdade,
E logo sentiu um solavanco
Da prisão, seu colar branco.

No entanto, estava feliz,
Era o que ele sempre quis.
Já não era cão sem dono,
Protegia agora algum sono.
Mesmo perdendo o seu.

O medo na mente morreu.
Fazia tudo o que ela pedia,
Dia quente ou noite fria,
Realizava a sua função.
Até que então...

Não entendeu aquilo.
Estava feliz e tranquilo
Até apanhar sem culpa.
A dona tomou até multa
Pelos maltratos ao bicho.

II

Foi jogado no lixo,
Sem coleira ou corrente,
Só a liberdade pungente
Agora estava lá.
Era a hora de retornar.

Seu lar, abandonado,
Estava em tal estado
Que foi preciso abrir
Caminho para subir
Até a alta entrada.

Sem dono, um nada,
A barriga inchada
Da falta de alimento,
O cão, neste momento,
Pensou na outra vida.

Esquecidas as dores,
Viu novos jardins e flores
E, desta vez, ao menos,
Sentiu-se pleno.
Pensou não precisar amar.

III

Um dia, a caminhar,
Resolveu amar a tudo.
Perturbou seu lado mudo
Até poder ouví-lo,
Cansado de apenas sentí-lo.

Ao ver um mudo gritar
Pôs-se, então a pensar:
Tudo é possível,
Como é incrível,
Bastava apenas amar.

E parou de duvidar
Sobre sobre a sua dívida.
Não teve uma idéia lívida.
Ele devia amar o mundo,
Não um coração vagabundo.

No fundo, esta idéia,
Protegida como colméia,
Sempre estave lá,
Difícil era acreditar.

Agora, ainda sem dono
Ou sem velar algum sono,
Este cão vive feliz,
Com a liberdade que quis.
Ama as flores, folhas, madeira...

Só sente falta da coleira.

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domingo, dezembro 4, 2011 - 05:13

Ministério da Poesia :

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Ítalo Cunha

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