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AMOR CUJO CARVÃO SE INCENDEIA DE GELO …

Ouvido ou visto,
sentido sem tido, sem tacto,
falado sem fala, inteiro destruído.

Morto sem morte, sem tecto,
sorte que sem saliva se diz e cala,
raso eco no beco do passo, cisco no olhar.

Insólita porta cuja saída sai caída em intácteis chãos.

Mãos de bofetadas borratadas de sombra,
atadas mãos a claustrofóbicos nadas,
fechadas sobre si em punhos

que esmurraçam os rascunhos do tempo.

Momento cem à hora, vento sem à hora pertencer.

Viver que sem vida vive em correntio inerte.

Letárgica desistência
que verte o sangue dessa distância
que me afoga os pulmões de todos os quereres.

Saraiva de acontecer em raiva,
ossadas de feroz ódio desarticuladamente gritado.

Prazer gretado de dor.

Amor cujo carvão se incendeia de gelo.

Candeia de lumes cuja luminância ilumina o abismo.

Fogo de petróleos que em choro se evaporam da alma.

Beijos cujos lábios são afiadas lâminas
a ceifar os neurónios do coração,
a barbear os seres da razão.

Abraços que sem saudade
são uma forca em volta do pescoço da noite,
engasgado sono por insónias tecedeiras de solidão e frio.

Pensamentos como coxos beirais
que se abeiram de nenhures.

Coveiras lágrimas que algures escavam covas
de procrastinação.

.
.
.
.

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terça-feira, julho 2, 2013 - 19:15

Poesia :

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Henrique

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