BLUE

BLUE

Fumo negro
nuvem espessa
de aromas porcos.
Paredes de graffiti
um frio de quebrar
a monotonia da cama...
Mijo de luvas calçadas
ensaio um bocejo
e dá-me vómitos.
Que se lixe...
os carros deambulam
pelas ruas esventradas
a noite adormece
um cão uiva à lua
os poetas meditam...
A música esgueira-se
pelos isolamentos acústicos
meto um pastilha elástica
de sabor a menta
na minha boca cariada...
Esfrego as mãos
de contente é que não
está um frio de quebrar
a monotonia do imperialismo
e vem-me à memória
a minha querida África
devastada pela guerra.
Encolho os ombros
amargurado com a realidade
assobio sem dedos
para um táxi que passava
meto-me no banco de trás
e dou-lhe a morada...
Subi as escadas
o corpo pesava-me
a mente martirizava-me.
Despi-me sem pressas
deitei-me na monotonia
da mesma cama de sempre.
Adormeci triste
escutando mentalmente em silêncio
um Blue...

24. 02. 2003
in MEDO DO AMOR
Jorge d'Além-Mar