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CEMITÉRIO DE ALMAS SÓS
O amor é uma teia
que fede a desejos cadáveres,
tear de beijos em decomposição.
Amar é o esgoto do ser,
pântano de línguas como vulto
que assombra os cacos desaglomerados da alma.
Amor é uma cobra
que rasteja em grito nojento,
clamores em vómito pelo suor da pele.
Mãos como aranhas assassinas
cujas sinas em fel esventram os sentidos
até à última gota de sangue exangue do ego.
Amar é um cemitério de almas sós,
sucata de corpos atados aos nós da mentira.
Palavras em ira,
facas que retalham as vísceras dos olhos.
O amor é estrume. Cardume tóxico do pensamento.
Ponte de lágrimas
sobre rios de pedra. Fonte de perdas
onde a saudade é um cacto no deserto da mente.
Altar de carícias rejeitadas,
vento expulso para o lado negro da lua.
Lábios dilatados em correntes
que acorrentam o romantismo ao silêncio.
Abismo de sombras de cauda e cornos,
luzes como fornos que cozem o pão da morte.
O amor é uma forquilha forjada no inferno,
caderno escrito de invernos no bolso da vida.
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