Crônica

Eu tenho uma varanda.
Uma pá de gente é sem-teto.
Eu tenho uma varanda  e  um teto,
E agora bebo vinho tinto
— tem gente que morre é de sede.
Afinal,
É pra me sentir grato ou culpado?
O ideal
É ninguém dar moral.
Viver assim, no conforto da ideia
Sem o cutucão da vida,
Sem a sensação de apneia.
E eu
Sou sem teto de sentimento
Tenho sede de conhecimento
E o mundo é muito pouco pra ser pouco são.
A janela nem se incomoda com a chuva de verão,
O que incomoda à janela
É ser, para a parede, apenas um vão
Com um olhar atravessado,
Enviesado
Como a faca no pão.
E daí eu pergunto, o que eu sou, o que vocês são?
Eu sou uma pergunta constante
Numa inconstante religião
E na região que me encontro
Que me importa a beleza dos versos?
Quero vomitar palavras
Cair na cama de ressaca
E voltar a ter um sonho bom…
Pro verão.

yuri emanuel